Da série «histórias mal contadas» temos o Pinóquio: a história de um velho pedófilo de nome Gepeto que, numa altura em que ainda não existiam bonecos insufláveis com orifícios em pontos-chave, decide fazer um menino de pau para dar largas à sua perversão. Não vamos aqui discutir a matéria-prima escolhida pelo velho, podia ter escolhido silicone, esponja ou outro material, mas escolheu madeira e o gajo é que sabe, e isso agora não interessa nada.
Um belo dia, sem mais nem porquê, o menino de pau feito ganhou consciência. Desatou a falar que nem uma criança normal, e a fazer as barbaridades que as crianças normais fazem, com uma particularidade curiosa: sempre que dizia mentiras crescia-lhe o nariz. Até aqui não há nada de novo, tirando aquela referência semi-fálica do nariz, que também não interessa nada para este post.
O que realmente interessa aqui é a personagem que se torna amiga do menino de pau feito: um grilo. Um grilo falante capaz de enervar a criatura mais plácida. Um insecto que partia constantemente a cabeça do menino de pau feito, dizendo-lhe o que devia e o que não devia fazer. Uma espécie de Marques Mendes a chatear a bancada socialista por dá cá aquela palha. Todos nós temos este maldito grilo a chatear-nos diariamente. Mas há alguns de nós que dão uma utilização criativa ao grilo – é o caso de Ernesto Guevara que tinha um grilo que lhe dizia para ir dar uma volta pela América Latina; é o caso de Richard Branson, da Virgin, que há anos que tem um grilo a mandar-lhe dar uma volta ao mundo de balão; é o meu caso, que a dada altura tinha um grilo a mandar-me despejar num blog todos os disparates que me vêm diariamente à cabeça.
O que é importante reter aqui é que nem todos os grilos são de qualidade. Há grilos que são perfeitos anormais. Há grilos que não podem, nem devem, ser levados a sério. Mas na maior parte dos casos, os grilos dão-nos boas dicas. Há grilos verdadeiramente geniais. Ouçam o vosso grilo.
22 de fevereiro de 2006
A Razão do Grilo Falante
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