Já pensaram no número de coisas que desaparecem fisicamente do nosso quotidiano sem que nos apercebamos? Coisas que tiveram um papel fundamental ao longo de gerações e que chegam a esta geração e perdem a sua utilidade universal, desaparecendo de fininho do nosso dia a dia, acabando por ter uma existência essencialmente linguística? Coisas que passam a existir no nosso dia a dia de uma forma abstracta porque ao longo dos séculos acabaram por fazer parte do nosso vocabulário, das nossas expressões, e que ganharam uma espécie de existência virtual para a maior parte de nós?
Desse rol de coisas que vão desaparecendo aos poucos das nossas vidas temos a corda. Já pensaram há quanto tempo não usam uma corda? Aposto que alguns de vocês nunca a usaram, pelo menos fisicamente. Nunca a usaram para aguentar as calças, à falta de cinto. Nunca a usaram para pendurar um gajo numa árvore mais próxima (método rápido de justiça em tempos passados). Talvez alguns de vós até tenham saltado à corda, mas a realidade é que a corda está em extinção – tirando algumas actividades (também elas em perigo de extinção) já ninguém liga nenhuma à corda. Foi implacavelmente substituída pelo cabo.
Mas no entanto a corda continua semanticamente a fazer parte do nosso dia a dia. Aposto que a usam todos os dias sem reparar: quando dão corda à ruiva na paragem do autocarro, quando vos esticam a corda lá no emprego, quando por algum motivo vos roem a corda, quando vos dão aquelas desculpas «presas por cordas», quando dão corda aos sapatos e bazam, ou mesmo naqueles dias em que vocês estão com a corda toda.
3 de abril de 2006
A Razão da Corda
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