O recém chegado Papa Bento XVI convocou, no início do ano, uma comissão de trinta teólogos com o objectivo de acabar com o Limbo. Para quem está menos informado sobre a arquitectura do edificio celeste, o Limbo é aquele andar entre o Céu e o Inferno, para onde vão as almas de todas crianças, bébés e fetos que morrem sem que tenham sido baptizados. O Limbo, que existia desde o século IV, altura em que São Gregório, o Teólogo, decidiu construir uma mezzanine no Inferno, passou a ser levado a sério depois de umas obras de restauro levadas a cabo por São Tomás de Aquino no século XIII, altura em que ganhou um estatuto de assoalhada (muito embora o seu pé direito fosse muito reduzido, dado que foi espaço ganho ao inferno, nunca ninguém se preocupou muito com isso porque as crianças nunca atingiam alturas acima do metro e meio). No início do século passado, o Papa Pio X garantiu a pés juntos que o Limbo existia e que as almas das crianças não baptizadas estavam lá – tendo apresentado na altura vários dossiers com os nomes e idades dos residentes.
A existência do Limbo nunca foi pacífica, dado que era considerada um regime de apartheid celestial: uma criança índia que nascesse e morresse no meio da selva sem nunca ter ouvido a Palavra do Senhor (muitos consideram que essa palavra é «rabanete», embora ninguém esteja muito certo disso, havendo uma escola mais radical que afirma que a palavra é «zingarelho») nunca teria possibilidade de chegar ao Céu, e o mais que podia era candidatar-se a um lugar no Limbo, simplesmente porque o canal de distribuíção da Igreja não fazia entregas naquela zona da sua selva. Uma escandaleira discriminatória, como bem se vê.
Foi exactamente este princípio de apartheid que levou o Papa Bento XVI a rever a existência do Limbo e a iniciar a sua extinção, o que irá tornar as coisas mais complicadas doravante uma vez que, sem o Limbo, os católicos e os membros de uma série de outras religiões irão concorrer em pé de igualdade por vagas nos mesmo lugares – Céu, Inferno e Purgatório. E sabe Deus como estes dois últimos estão lotados...
Entretanto os 30 teólogos estão reunidos à procura de soluções para acabar com o Limbo e realocar aquelas alminhas. Espera-se que na próxima sexta-feira apresentem ao Papa um pacote de medidas, que terei oportunidade de revelar em primeira mão, aqui na Razão.
6 de março de 2006
A Razão do Limbo (I)
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