Falei ontem brevemente na polémica existente em torno da Palavra do Senhor, e hoje vou aprofundá-la um pouco mais.
Quando Jesus fez a sua série de workshops com os 12 apóstolos deu-lhes instruções para que, após a sua morte por crucificação e empalamento, corressem o mundo e difundissem a Palavra do Senhor. Azar dos azares, Jesus nunca conseguiu dar o último módulo do workshop dedicado a «Coisas Que Devemos Dizer Para Arranjar Mais Sócios». Falou-lhes dos Milagres, falou-lhes do Céu & Inferno, falou-lhes na Vida Eterna mas, quando ia falar na Palavra do Senhor, um destacamento de romanos entrou-lhe pelo auditório adentro (o Judas havia-se chibado por não estar de acordo com as propinas do workshop) e levaram-no, e crucificaram-no, e empalaram-no. E finito. O tipo morreu sem dizer concretamente que Palavra era aquela.
Os apóstolos ainda tentaram fazer um brainstorming, com os conhecimentos adquiridos até à data, de modo a conseguirem chegar a algo que se assemelhasse ao que eles achavam que seria a Palavra do Senhor, mas tirando aquela cena da ressuscitação (onde todos estavam de acordo que era uma história do caraças e que merecia ser contada), não conseguiram chegar uma conclusão sobre qual seria a Palavra do Senhor. E assim cada um deles foi à sua vida escrever e pregar sobre a sua visão de Deus e de Jesus, e cada um deles achou que sabia qual era a Palavra do Senhor.
Pedro, João e Tiago (o Maior) achavam que a Palavra do Senhor era «rabanete». Chegaram a esta conclusão depois de terem proferido uma série de outras palavras. Na altura em que proferiram «rabanete» aconteceram umas coisas esquisitas: a terra tremeu, a garrafa de vinho caiu de pé, e os cães começaram a uivar. E a partir daí, desconhecedores da escala de Richter, acharam que tinham descoberto a Palavra.
Filipe, Bartolomeu e Tomé haviam decidido que a Palavra era «Oréops!», mas só porque gostavam da sua sonoridade, dado que não há qualquer registo que algum fenómeno natural tenha ocorrido quando esta foi inicialmente pronunciada. Tomé era aquele que a usava mais, principalmente quando treinava o seu triplo salto encarpado de costas, nas margens do Mar Morto.
Tiago (o Menor), Mateus e Judas Tadeu, eram apologistas fervorosos da Palavra «Porra», a última palavra que ouviram da boca de Jesus. Achavam que não era uma simples interjeição nascida da sua inconfortável posição na cruz. Acreditavam piamente que se aquela foi a última palavra de Jesus, é porque aquilo devia ter um segundo sentido qualquer. Um sentido celestial.
Finalmente, os dois apóstolos mais radicais, André e Simão tinham «zingarelho» como a verdadeira Palavra do Senhor. Tinham-na ouvido da boca de Maria Madalena quando pela primeira vez recorreram aos seus serviços. Ela apontou para as tripas de porco e disse-lhes: «ponham lá os zingarelhos, que isto não é da Joana». Depois dos zingarelhos postos Maria Madalena deu-lhes uma experiência celestial que eles nunca mais esqueceriam. E desde aí a Palavra do Senhor passou a ser um grande «zingarelho». Bem... no caso de Simão nem era tão grande como isso.
7 de março de 2006
A Razão da Palavra do Senhor
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