O aparelho do Estado suscita-me alguma curiosidade. Principalmente porque nunca o vi. Leio recorrentemente sobre ele nos jornais e ponho-me a imaginar que tipo de aparelho será. Não parece que tenha alguma coisa a ver com os aparelhos dentários, porque esses têm uma função de correcção e como sabemos o aparelho do Estado não corrige nada, muito pelo contrário, vai dando cabo de tudo. Também não deve ser um daqueles aparelhos anticoncepcionais como o D.I.U. porque para haver anti-concepção deveria existir a hipótese de haver concepção e, como também sabemos, o Estado não concebe nada, muito pelo contrário, é inconcebido e inconcebível.
Uma coisa me parece indubitável: o aparelho do Estado é a pilhas. Só pode ser a pilhas. Implica sempre pilhas de gente inoperante, pilhas de gente à espera, pilhas de processos pendentes e irresolúveis, pilhas de impostos a pagar, e pilhas, muitas pilhas, de paciência para aguentar e alimentar o aparelho do Estado.
Mas o facto de ser a pilhas não é esclarecedor do tipo de aparelho que é: há tantos aparelhos a pilhas por aí, e tão diferentes entre si, que não são aparelhos do Estado...
Confesso que quando penso no aparelho do Estado penso naqueles aparelhos tão complexos que já ninguém percebe como é que funcionam: quem o inventou já deixou este mundo há muito, e os que cá ficaram responsáveis pela sua manutenção não percebem lá muito bem como é que o bicho funciona, embora olhem para ele com aquele ar entendido de quem conhece a mais ínfima porca e o mais remoto parafuso daquele inexpugnável e ruidoso aparelho.
Se querem que vos diga, eu acho que na realidade aquilo não é um aparelho, é um zingarelho (evitem as tremuras no lábio superior se conseguirem) – daqueles zingarelhos que funcionam mal e porcamente, e cujas intervenções mecânicas são feitas atabalhoadamente sem se perceber lá muito bem que merda é que vai acontecer a seguir, no zingarelho do Estado.
21 de março de 2006
A Razão do Aparelho do Estado
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