Na maior parte dos países que conheço o acto de reclamar é algo assertivo. Nesses países as pessoas reclamam e é suposto acontecer alguma coisa. Existem até gabinetes especializados na recepção e gestão das reclamações. Ali, a reclamação é entendida como a denúncia de alguma coisa que não está bem com o intuito de a corrigir. O próprio acto de fazer a reclamação tem uma designação formal, chama-se “apresentar uma queixa” ou “apresentar uma reclamação”.
Em Portugal a reclamação não existe. Os portugueses têm, no entanto, um sucedâneo pobre da reclamação, vulgarmente designado por queixume.
O queixume é uma queixa para a qual não se exige nenhuma solução. É a queixa inconsequente e sem solução à vista. E portanto o objectivo do queixume é podermo-nos queixar e reclamar conformadamente sabendo de antemão que nada irá resultar desse acto. A reclamação está para a dor de cabeça tal como o queixume está para a moínha irritante que não tem intensidade suficiente para nos levar a tomar um comprimido, mas que ainda assim nos vai chateando.
A reclamação é feita de peito cheio, voz grossa, e murro na mesa. O queixume é feito a pedir desculpa, de forma balbuciante e com pézinhos de lã.
Sempre acreditei que o desenvolvimento de um povo é largamente influenciado pela capacidade que esse povo demonstra em autocorrigir-se, e autoaperfeiçoar aspectos que considere merecedores de correcção. A reclamação tem essa virtude de mudar o status quo de um povo. O queixume não. É uma manifestação de impotência e falta de iniciativa. É o “lusitanian way of life” amplificado por duas gerações que não estavam autorizadas a abrir a boca.
5 de maio de 2005
A Razão do Queixume
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário