Ontem fui multado por excesso de velocidade. Mais uma vez. Mas ao contrário das outras vezes, ontem achei a situação divertida, porque com esta história da caça à corrupção policial estes tipos arranjam formas mais criativas de sacar dinheiro aos prevaricadores.
Então a coisa passou-se assim: eu a abrir que nem um doido numa avenida vazia da capital, atrasado para uma reunião, e os senhores do radar fazem-me parar a meio e informam-me que estou 50 km acima da velocidade legal. Eu confirmo a informação: não faço ideia a quantas ia, mas não me apetece perder tempo a discutir com dois tipos e um radar. Dou-lhes os documentos e o cartão multibanco para pagar e sair dali rapidamente. Pensava eu.
O agente Tavares, convenientemente, «baralha-se todo» com a máquina de multibanco portátil e engana-se nas contas: em vez de se ter pago de 40 euros o Tavares paga-se de 20 euros.
«Oh diabo, enganei-me!» dizia o gajo com uma naturalidade que o teria feito ser automaticamente apurado num casting dos Morangos com Açúcar, «E agora a máquina não me permite que eu faça outra vez a operação... O senhor não tem 20 euros em dinheiro consigo?»
Olhei para ele e para o meu relógio. O sacana queria mamar 20 euros e eu estava atrasado para uma reunião. Decidi ver até onde aquilo ia chegar, mandei uma sms a adiar a reunião e disse-lhe que não tinha dinheiro comigo. «Safa-te lá agora desta, Tavares» pensei eu.
O Tavares já tinha a coisa estudada: «Se não se importa este meu colega vai consigo a um terminal de multibanco e o senhor levanta o dinheiro que falta, desculpe lá a maçada.»
Continuei a achar a situação divertida: o colega era o agente Carvalho, um daqueles polícias motorizados, de calcinha apertada e bota de montar. Gay. Nunca tinha visto um polícia motorizado e gay, mas há sempre uma primeira vez.
«O senhor faça o favor de me seguir» diz o agente Carvalho com uma vózinha de falsete a condizer com o nome. E lá vou eu com um polícia gay de mota à minha frente em direcção ao multibanco mais próximo.
E agora chegamos à parte hilariante da questão: eu que tinha sido multado por excesso de velocidade numa zona sem trânsito vejo-me de repente com escolta policial, o Carvalho de sirene ligada, a entrar numa das zonas mais movimentadas de Lisboa, a passar sinais vermelhos, a entrar em sentidos proibidos para chegar rapidamente um multibanco. As contravenções que fiz naquele percurso faziam o meu excesso de velocidade parecer uma brincadeira de crianças. O Carvalho fez o favor de me transformar em veículo prioritário até ao próximo multibanco.
Quando lhe paguei os 20 euros em dinheiro, o Carvalho virou-se para mim e aconselhou-me simpaticamente: «o senhor parece um cidadão cumpridor e por isso vou dar-lhe dois conselhos: primeiro nunca vá a mais de 70 dentro da cidade porque a gente tem os radares regulados para o detectar acima dessa velocidade; e depois escreva ao Governador Civil e explique-lhe a situação, que estava com pressa e isso, pode ser que lhe retirem a multa».
Fantástico, pensei. Com sorte ainda é o Governador Civil de Lisboa que vai ajudar a pagar as férias ao Tavares.
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