Por mais que tentemos não conseguimos dar à nossa existência um carácter simples. É mais forte que nós. Há sempre uma problemática qualquer que acaba por nos deixar lixados. Conseguiríamos viver sem esta problemática? Duvido. A não ser que apreciássemos viver em estado de absoluta felicidade, ostentando o tempo todo aquele sorrisinho esgazeado e estúpido.
Como diz alguém que conheço: «A problemática é aquilo que nos permite identificar se somos felizes – se ela não existisse como é que iríamos saber se o éramos?». E então arranjamos problemáticas para nos irmos entretendo a vida inteira: a problemática do déficit, muito em voga nos dias que correm; a problemática do emprego, outro blockbuster; a problemática da importação das ovas de esturjão e o seu impacto nas políticas autárquicas (esta é marginal, a problemática bem entendido – e por vezes a política autárquica também).
E já repararam na dimensão da problemática? Não se fala no «problema do déficit», fala-se na Problemática, o que sugere que há um conjunto de pequenos e intrincados problemas que tornam qualquer solução numa coisinha verdadeiramente complexa e distante.
Ter um problema é coisa de meninos. Enfrentar uma problemática é uma coisa a sério, sem solução à vista.
Portugal é um país problemático. E isto não é um problema.
26 de janeiro de 2006
A Razão da Problemática
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