31 de janeiro de 2006

A Razão Cola Cao

colacao
«Aquilo que não me destrói torna-me mais forte». Já leram maior imbecilidade que esta? Isto faz-me pensar que afinal a sabedoria popular não é tão lúcida como nos quer fazer parecer. Imaginem coisas que não nos destroem, do tipo: uma deficiência renal; a espinal medula em gelatina; o cérebro a funcionar só de um lado (com a consequente baba a escorrer de um dos lados da boca); os fémures trituradinhos por um catterpillar desgovernado; a bacia no lado errado das costas; um bocado do vosso baço numa qualquer placa de Petri; a glândula pituitária a latejar desenfreadamente; o intestino a sair-vos pelo anús; e daí por diante. Tudo isto são coisas que não nos destroem, pelo menos no sentido literal da coisa. Mas daí a pensar que isto nos fortalece vai uma distância considerável. Estão a imaginar dizerem para alguém «graças a Deus que amputei a minha perna esquerda a semana passada, há anos que não me sentia tão vigoroso»? Está tudo doido ou quê? Aquilo que não me destrói não só não me torna mais forte como me deixa em muito mau estado. Não nos iludemos. Sejamos lúcidos
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30 de janeiro de 2006

A Razão do Entalado

entalado
Cerco de Lisboa. Ano de 1147.
Mal sabia Martim Moniz, a correr alarvemente para a fresta de uma das portas do Castelo de São Jorge (hoje designada por Porta de Martim Moniz), que estava a iniciar uma tradição. Ao morrer entalado na porta do castelo que queria tomar, permitindo assim que os seus companheiros penetrassem nas defesas inimigas, Martim Moniz deu origem a uma das mais antigas tradições nacionais: a tradição do entalado.
Desde esse momento, gerações e gerações de indivíduos entalaram-se alegremente para que outros pudessem safar-se à grande e à portuguesa, neste jardim à beira-mar semeado.
Desde então pouco mudou, à excepção de uma pequena nuance: são cada vez mais os entalados – pouco menos de 10 milhões, para ser mais preciso.

29 de janeiro de 2006

A Razão Pedagógica

pedagogica
Aqui fica uma boa maneira de entreter o vosso filho de quatro anos quando o metem na cama e, ao mesmo tempo, de lhe estimular a imaginação:

«Vim desejar-te boa noite e ajeitar-te os lençóis, Joãozinho. Tiveste um dia em cheio, por isso, trata de dormir bem. E não te esqueças de ter cuidado com o Papão. Lembras-te do que o pai te disse sobre o Papão? De como mata rapazinhos? O que achas Joãozinho, achas que o Papão está aqui escondido no teu quarto? Será que está no armário? Será que vai saltar lá de dentro e matar-te mal eu me vá embora? Pode ser que sim. Nunca se sabe.
Talvez esteja debaixo da cama. Também gosta de se esconder lá. Se calhar vai abrir um buraco no colchão e matar-te. Não deixes que ele te mate Joãozinho. Sabes o que ele faz? Espeta um tubo de metal afiado pelo teu nariz e chupa-te os miolos. E isso dói muito.
Agora, vou apagar a luz e deixar-te sozinho no escuro. E não quero ouvir barulho. Se ouvir algum barulho vindo deste quarto, venho cá e bato-te. Tenta dormir bem. A propósito, o pai viu um monstro a passear no corredor ontem à noite. Tinha um papel na mão com o teu nome escrito. Boa noite.»

George Carlin

28 de janeiro de 2006

A Razão Nua e Crua

nuaecrua
Olá. Somos nós que controlamos as vossas vidas. Nós tomamos as decisões que vos afectam a todos. Não é interessante saber que as pessoas que vos gerem a vida têm a frontalidade para o admitir desta forma? Sofram, palhaços. Sabemos de tudo o que fazem e sabemos para onde vão. Para que acham que servem as câmaras? E os satélites? E os números da Segurança Social? Vocês pertencem-nos. E ninguém pode alterar isso. Recolham assinaturas, façam manifestações, levem processos a tribunal, votem, escrevam cartas a quem quiserem. Não vai adiantar nada. Porque nós controlamos as vossas vidas. E temos planos para vocês. Agora voltem para a cama.

George Carlin

27 de janeiro de 2006

A Razão da Consciência

consciencia
Nos dias que correm fala-se muito em consciência (e nos dias que andam a passo também). Pede-se ao País que tome consciência do período difícil que atravessa. Pede-se às pessoas que ajam em consciência nos momentos considerados decisivos para Portugal. Exige-se que os contribuintes se consciencializem que só pagando mais impostos, mais taxas e mais tachos é que o País poderá, em consciência, saír da crise. Pede-se muita coisa em nome da consciência. E isso está profundamente errado.
Ser consciente em Portugal é um acto de contra-natura. E está historicamente provado: Viriato e o seu grupo de amigos pastores, à calhauzada nos Montes Hermínios contra o exército mais organizado do Mundo, eram conscientes? Não.
Afonso Henriques agiu em consciência quando ficou a dever ao Papa o dinheiro que habilitava Portugal a ser considerado, aos olhos de Deus, um País? Não.
Eram conscientes aqueles gajos que se meteram em casquinhas de noz para irem descobrir novos mundos? Também não.
Foram conscientes os tipos do Corpo Expedicionário que foram combater os alemães na 1ª Guerra Mundial utilizando, por falta de armas, os métodos da calhauzada imortalizados por Viriato? Obviamente que não.

Se nós somos um povo que sempre cresceu à conta de uma bela e imensa dose de inconsciência, porque raio querem agora que sejamos conscientes? Que inconsciência!

26 de janeiro de 2006

A Razão da Problemática

problemática
Por mais que tentemos não conseguimos dar à nossa existência um carácter simples. É mais forte que nós. Há sempre uma problemática qualquer que acaba por nos deixar lixados. Conseguiríamos viver sem esta problemática? Duvido. A não ser que apreciássemos viver em estado de absoluta felicidade, ostentando o tempo todo aquele sorrisinho esgazeado e estúpido.
Como diz alguém que conheço: «A problemática é aquilo que nos permite identificar se somos felizes – se ela não existisse como é que iríamos saber se o éramos?». E então arranjamos problemáticas para nos irmos entretendo a vida inteira: a problemática do déficit, muito em voga nos dias que correm; a problemática do emprego, outro blockbuster; a problemática da importação das ovas de esturjão e o seu impacto nas políticas autárquicas (esta é marginal, a problemática bem entendido – e por vezes a política autárquica também).
E já repararam na dimensão da problemática? Não se fala no «problema do déficit», fala-se na Problemática, o que sugere que há um conjunto de pequenos e intrincados problemas que tornam qualquer solução numa coisinha verdadeiramente complexa e distante.
Ter um problema é coisa de meninos. Enfrentar uma problemática é uma coisa a sério, sem solução à vista.

Portugal é um país problemático. E isto não é um problema.

25 de janeiro de 2006

A Razão da Opinião

opiniao
Na sociedade actual o papel da opinião está demasiado valorizado. Ter opinião, hoje em dia, é algo tão necessário como andar vestido. Ir para o emprego em cuecas é a mesma coisa que não ter opinião sobre um assunto qualquer: as pessoas sentem-se despidas e com uma ligeira sensação de frio nas partes baixas (especialmente se estivermos em Janeiro e vivermos na zona da Covilhã, apascentando ovelhas).
Como ninguém se sente à vontade de andar por aí em cuecas (e ainda bem, porque nos poupam um espectáculo verdadeiramente triste na maioria dos casos) toda a gente se sente no dever, e alguns até se sentem no direito, de ter uma opinião e de a esfregar directamente na nossa cara. Voltando à analogia da roupa é como se tirassem as cuecas e as metessem debaixo do nosso nariz. E há cuecas, meus amigos, que não são mesmo flôr que se cheire.
Há alguns anos atrás era raro encontrar alguém com opinião. Os entrevistados na televisão ou não tinham opinião e assumiam-no frontalmente, ou presenteavam-nos com verdadeiras pérolas de sabedoria. Hoje vemos a peixeira do Bolhão exibir com galhardia uma opinião sobre importância dos sons guturais na apanha da ameijoa. E mais incrível: as pessoas ouvem-na!
E depois temos os «opinadores profissionais»: gajos que são pagos para despejar o seu autoclismo intelectual em cima de todos nós. Todos estes gajos me parecem clones do Nuno Rogeiro – o homem que sabe sempre alguma coisa sobre quase tudo.
A profusão de opiniões é tanta que assistimos à categorização da opinião. É como se ter opinião já não bastasse. Tem que se ter uma opinião abalizada, ou uma opinião coerente, ou uma firme opinião, ou uma opinião desinteressada, ou uma opinião controversa, ou vice-versa.
A coisa chegou a um ponto tão ridículo que até as instituíções já têm opinião: a opinião do Governo, a opinião da Comissão de Trabalhadores, a Opinião do Partido, e assim por diante. Ainda ninguém me explicou como é que a opinião institucional é formada: será que é decidida por uns quantos e imposta aos outros de modo coercivo e com requintes de sadismo? Uma coisa é certa – nunca ouvi um funcionário da PT contrariar a opinião da sua empresa, à excepção talvez de um tipo que conheci, que trabalhava na instalação de telefones, e que teve um acidente esquisito (sufocou nos próprios testículos).
Outro fenómeno interessante são os «provocadores de opinião»: quantas vezes não vos pediram a opinião sobre o serviço do hotel onde dormiram? Ou sobre a qualidade de serviço da tripulação do avião onde viajaram? E vocês acham que a vossa opinião alguma vez serviu para alguma coisa? Conseguem imaginar todo o departamento de atendimento da TAP a rir à gargalhada da vossa honesta opinião sobre as sandes congeladas que vos serviram a bordo?
Voltando ao início, acho que a opinião se está a banalizar. Mas isto é só a minha opinião.

24 de janeiro de 2006

A Razão da TPM

tpm
Anda toda a gente preocupada com a SIDA, com a Gripe das Aves e com toda a espécie de doenças infecto-contagiosas quando se deviam preocupar com aquilo que é o verdadeiro flagelo da humanidade. Falo obviamente da TPM. Se acabassem com a tensão pré-menstrual o mundo ficaria bem mais seguro. Principalmente nos dias de hoje, onde as mulheres atingem facilmente lugares de poder. Ficou toda a gente contente com o facto da Angela Merkl ter ocupado a liderança na Alemanha: vocês fazem ideia do perigo que constitui a TPM da Angela Merkl e o que isso representa para o futuro da Europa e do Mundo? Certamente que não.
Pertencer-se ao sexo masculino neste início de milénio deveria dar direito a subsídio estatal qualquer, por estarmos mensalmente sujeitos aos efeitos e consequências da TPM. O stress pós-traumático é uma brincadeira de crianças para quem enfrenta mensalmente as manifestações da tensão pré-menstrual: um simples «não», uma simples contrariedade, pode perigar a existência do homem do século XXI. E pensar que tudo começou um século antes com um grupo de gajas a queimarem a sua roupa interior e a extravasarem todos os sintomas da coisa...
O que é a gripe das aves comparada com isto? Porque não se arranja uma vacina para a TPM? Porque não se fala disto nos noticiários? Eu digo-vos porquê: porque elas já tomaram conta disto!

Nota de cariz ciêntífico: a origem da TPM está relacionada com a perda da serotonina, uma substância que regula os estados de humor. Por amor de Deus façam as vossas mulheres felizes! A todo o custo! (mas não abusem no crédito – o país já está endividado quanto baste)

23 de janeiro de 2006

A Razão dos Animais Falantes

animais falantes
«Isso foi no tempo em que os animais falavam».
Quantas vezes já ouviram esta expressão? Pois é. Aparentemente há muito muito tempo atrás os animais tinham a capacidade de falar. Ninguém consegue dizer exactamente qual foi a altura em que eles perderam esta faculdade. Só se sabe que um dia houve um big bang linguístico qualquer e os gajos perderam o pio. O papagaio foi o único que se safou, mas ficou limitado a repetir tudo o que ouvia: uma versão com penas de José Sócrates sempre que se desloca ao estrangeiro.
A cobra com sotaque tripeiro, o papaformigas com sotaque beirão, o jumento que dominava cinco idiomas, e a vaca que recitava Yeats com um sotaque genuinamente irlandês, emudeceram de um dia para o outro. O curioso nesta história toda é que nunca se fala no Homem neste processo de perda da fala.
Parece que o crescimento da espécie humana está correlacionado com este silêncio animal. Até então o Homem nunca teve grandes hipóteses de sobrevivência num mundo de animais falantes. «Olha ali um grupo de cromagnons a quererem lixar o mamute à pedrada» dizia um tigre de Bengala para outro colega deficiente, «tu vai lá ali num instante chamar os nossos amigos rinocerontes». E o outro ia. E os cromagnons lixavam-se.
Quando os animais perderam a fala as coisas complicaram-se de sobremaneira. É que dizer «topa-me ali à direita uma task force de australopitecos» sem poder usar palavras, requeria um poder mímico que nenhum animal estava preparado para usar. Como é que um gajo diz «australopiteco» em mímica? E os animais lixaram-se.

22 de janeiro de 2006

A Razão a Voar

a voar
Acho que as instruções de segurança que as hospedeiras de vôo dão antes da descolagem podiam ser melhoradas de forma significativa se fossem mais honestas e completas. Deviam incluir descrições gráficas acompanhadas por vídeos de animação e imagem real dos efeitos devastadores de um acidente aéreo no corpo humano. Deviam citar exemplos de mutilações. Deviam incluír também descrições detalhadas dos estragos provocados nos pulmões e na pele pelo fogo e pela inalação de fumo, demonstrando que sobreviver ao despenhamento de um avião, muitas vezes, não vale de muito. As pessoas merecem saber a verdade.
E que tal se os anúncios que antecedem o vôo fossem feitos numa cadência mais jovem e descontraída: «Olá. Tudo bem? É assim: estamos quase a levantar vôo, tá? Depois vamos voar uma beca e devemos chegar lá prái a meio da tarde. Pode ser? Daqui a um bocado, morfamos qualquer coisa, bebemos umas bejecas e até podemos ver um filme. Ok? Ah!... e tentem não carregar muito no botão para não nos acordarem. A não ser que aconteça uma cena altamente marada. Yá? Obrigado. Já agora, o comandante diz que é melhor fazerem aquela cena com os cintos.»


21 de janeiro de 2006

A Razão Casapiana

casapia
Fala-se muito sobre o que separa os homens dos rapazes. Eu digo-vos o que separa os homens dos rapazes: são as leis anti-sodomia.

20 de janeiro de 2006

A Razão do Provérbio (II)

Proverbios II

Há quem defenda que a maneira mais fácil de subir o nível intelectual de um povo consiste em sofisticar aquilo que é considerado ser a sua cultura popular.
A ideia é estupidamente absurda mas dá origem a híbridos hilariantes quando aplicada aos provérbios populares. Vejamos:

«Antes asno que me leve que cavalo que me derrube.»
Terá a seguinte sofisticação:
«É preferível montar um equino híbrido do que ter graves complicações na coluna por montar um equino puro.»

«A pressa é inimiga da perfeição.»
Teria como interpretação elitista:
«Se o fizerdes ninguém vai questionar se o fizesteis como deve de ser.»

«As paredes têm ouvidos» resultaria em «A alvenaria por vezes desenvolve capacidades auditivas».

«Burro velho não aprende línguas» teria uma formulação não muito distante de «Asinino com uma idade acima da média tem uma grande dificuldade em assimilar idiomas estrangeiros».

Para «A fome é o melhor tempero» teremos «Se fizerdes jejum, os alimentos saber-vos-ão substancialmente melhor».

«A necessidade aguça o engenho» ficaria em «Sereis engenheiro se realmente precisardes».

«Da discussão nasce a luz» para «Uma salutar troca de opiniões contribui para baixardes a factura da EDP».

«Mulher doente, mulher para sempre» seria traduzido por «Fêmea com saúde precária apresenta forte tendência para a eternidade».

«Preso por ter cão e preso por não ter» seria substituído por «Encarcerado por estar na posse de um canídeo e encarcerado pela sua manifesta ausência».

«Mais vale tarde do que nunca» mereceria «É preferível o atraso à absoluta ausência».

«Mais vale burro vivo do que sábio morto» seria melhorado para «É preferível possuir um QI reduzido e estar na posse de todas as funções vitais do que possuir uma inteligência assombrosa e não apresentar qualquer batida cardíaca».

Pessoalmente sou apologista da popularização da intelectualidade. Exactamente o contrário do que temos falado neste post. O debate político, por exemplo, seria muito mais vivificante se fosse um pouco mais popular. Em vez do «Olhe que não Doutor, olhe que não...» sou apologista do «Tu vai-ta foder meu ganda caralho e não me contraries, porra!»
Este país precisa de mais vernáculo.



Bónus: Crónicas Negras hoje no De Vagares...

19 de janeiro de 2006

A Razão do Provérbio (I)

Proverbios I

Já repararam que todos os provérbios populares que conhecem foram escritos (ou ditos) antes de vocês terem nascido? Alguém se lembra de algum provérbio popular do ano passado? Não é preocupante? Será que o povo ficou estúpido e deixou de «proverbiar» no momento em que vocês nasceram? Será que a culpa é inteiramente vossa? Foi a pensar neste actual deserto de sabedoria popular que decidi criar alguns provérbios para 2006. Assim já poderão dizer que são contemporâneos de uma série de provérbios populares, que os viram nascer, que encheram a boca com eles, e que afinal a sabedoria popular não levou o mesmo destino de José Sócrates.
E aqui vão eles:

«Não subestimeis a micose da bolsa testicular alheia, pois ela não faz ideia do que é um salário honesto.»
Provérbio dedicado a todos aqueles que engrossam a fila do subsídio de desemprego e que se recusam a trabalhar para contribuír para alimentar uma turba de preguiçosos igual a eles.

«Se não consegues perceber o que se está a passar é porque finges que trabalhas na Função Pública.»
Provérbio dedicado a todos os dedicados funcionários dessa abstracção incómoda que é o Estado.

«Mais vale avião que me leve do que comboio que me trucide.»
Provérbio que versa sobre a corrupção política e imobiliária à mistura com vertigens de grandeza desajustada.

«Aluno a aluno enche o reitor o bandulho.»
Não, não é sobre a Casa Pia, é sobre o ensino privado em geral.

«A Porsche oferecido não se declara o imposto.»

Dedicado à corrupção empresarial. Funciona também com Jaguar, Mazeratti e Ferrari.

«Faças bem ou faças mal, terás sempre uma reforma genial.»
Provérbio dedicado a todos os nossos gestores públicos.

«Quem muito bronzeado quer estar, em muita greve terá de participar.»
Dedicado a todos os que temem perder o seu tacho.

«Se queres que o teu saldo dê um pulo, lembra-te de arranjar um saco azul.»
Dedicado às pequenas políticas autárquicas.

18 de janeiro de 2006

A Razão do Capachinho

capachinho

O grau zero da consciência de si (e não estou a citar António Damásio) é o capachinho. Pergunto-me repetidas vezes o que leva um mamífero a exibir orgulhosamente um capachinho no alto da sua cabeça. Será que os gajos acham que a malta não repara? Como é possível não reparar num tipo que parece ter uma lontra em avançado estado de decomposição a cobrir-lhe a região craniana? Os utentes do capachinho parecem estar-se nas tintas para isso.
Para se usar capachinho tem de se ter uma certa dose de alheamento social, aliada de um egocentrismo blindado e cegante. Só assim se explica a ausência de noção do ridículo. Só na política encontramos a mesma falta de vergonha, a mesma ausência de «noção de si»: ser político é o mesmo que usar um capachinho – faz-se a mesma figura de urso, sempre com a convicção de que ninguém está a reparar.

17 de janeiro de 2006

A Razão do Vegetariano

vegetarianos

Um gajo que é capaz de comer uma amendoeira em flôr não merece o ar que respira. Falo obviamente dos vegetarianos, esses seres dependentes da clorofila que a dada altura das suas vidas decidiram ter uma existência bovina e desataram a ingerir coisas rumináveis.
Pessoalmente acho que cada um pode fazer as opções que lhe apetecer na sua vida desde que não chateie. O que não é o caso dos vegetarianos que, quais testemunhas de Jeová, se sentem na obrigação de justificar a sua opção alimentar tentando incutir nos outros, malta que come normalmente, o gosto pelo aipo salteado em soja. Não há coisinha que me enerve mais do que ter que fazer um jantarinho à parte para os vegetarianos que por vezes aparecem para jantar lá em casa. A minha vontade é de levá-los para uma divisão à parte, longe dos outros convivas, e espancá-los até à morte com um molhinho de salsa.
Eu tenho uma teoria sobre os vegetarianos: se em vez de terem sido amamentados pelas tetas das suas excelsas mães, tivessem mamado num quiabo, não estariam com estas paneleirices que os vai fazer viver até aos 120 anos numa existência de merda, com um ar de vegetal pronto a ser ligado a uma máquina, e com instintos sexuais que ombreiam com os de um vulgar diospiro. Já experimentaram fazer sexo animal com um diospiro? Não? Então evitem, aquilo esborrata-se tudo nos preliminares.
E aquela malta vegetariana que, nos aviões, quer uma refeição personalizada? Não mereciam que a hospedeira de vôo lhes metesse um personalizado salpicão de Monforte pela goela abaixo, com os cumprimentos do comandante?

16 de janeiro de 2006

A Razão dos Obesos

obesos
De vez em quando vem à baila a questão da obesidade e lá ficam os media histéricos com o facto da população portuguesa começar a esgotar os tamanhos XXL. Convidam-se nutricionistas a dar entrevistas na televisão, entrevistam-se ex-obesos deprimidos e obesos bonacheirões, e culpa-se a junkfood, e os doces, e os refrigerantes e o raio que o parta.
A mim, mamífero desde cedo educado a conviver salutarmente com a bio-diversidade, o que me chateia é que se promova uma espécie de segregação dos gordos. Qual é o problema de um gajo se parecer com um ovo Kinder? Qual é o problema de um gajo tresandar a suor e ter o aspecto permanente de que acabou de sair vestido do duche? Porque raio se há-de embirrar com um tipo que paga dois lugares num avião ou num autocarro? Qual é o problema de um gajo ter de se levantar por camadas, e de não ter a mínima noção da côr das cuecas que está a usar?
O discurso profilático da obesidade como doença, tira-me do sério. Uma doença?? Um tipo que tem apetite para comer quatro frangos e duas alheiras regadas com tinto ao pequeno-almoço; repetir seis vezes a dose generosa de cozido ao almoço; lanchar trinta e duas duchéses; e jantar três leitõezinhos da bairrada como entrada de sete doses de tripas à moda do Porto, é um gajo doente? Desde quando é que um tipo com apetite pode ser rotulado de doente? Se excluirmos o Zézé Camarinha, nenhum.
Temos portanto aqui mais uma mistificação mediática para arrasar a redonda auto-estima dos gordos que, como sabemos, são seres mais bem dispostos que os magros. E tudo isto para quê? Para que Portugal continue a ser um país sorumbático e deprimido.

15 de janeiro de 2006

A Razão das Políticas Sociais

Políticas Sociais
Não seria estranho se vos enterrassem vivos quando chegassem aos sessenta e cinco? Se isso fosse obrigatório para toda a gente? Depois da festa do vosso sexagésimo quinto aniversário, vinham buscar-vos e atiravam-vos para uma vala comum com outras pessoas da vossa idade, todas as prendas que receberam e enterravam-vos vivos. Não seria esquisito? Ainda bem que não fazem isso. Seria mesmo esquisito.
Mas, mais tarde ou mais cedo, vamos ter de começar a fazer qualquer coisa deste género. Seremos obrigados. Já não conseguimos tomar conta dos velhos e vai haver muitos milhões deles. Os avanços da medicina são uma espada de dois gumes porque uma das consequências é que ficamos com velhos a mais. O que fazemos com eles? Ninguém quer tomar conta deles. Os filhos metem-nos em lares. Até as pessoas que são pagas para tomar conta deles nos lares se estão nas tintas e tratam-nos mal. Ninguém se importa. Estou convicto que, mais tarde ou mais cedo, vamos ter de começar a matar os velhos antes que se tornem um fardo insuportável. Mas há uma coisa boa. Vamos poupar montes de dinheiro à Segurança Social e talvez o país não vá à falência.
Há sempre um lado positivo em tudo.