14 de dezembro de 2005

A Razão do Presépio (II)

presepioII
Estava lá toda a gente: gays magos, vaca com distúrbios profundos do foro psicológico, burro manso, cornudo equivocado, virgem saciada, e criança nas palhas deitada. No meio de incenso, ouro e mirra alguém repara (num lampejo transcendente que faria corar Lobsang Rampa e mais a sua terceira visão – silogismo trapalhão do seu transcendental olho rectal) que havia uma zebra no cenário. A zebra estava a mais e não o sabia. Não havia registo de zebras em Jerusalém. Ninguém fazia ideia do que era aquele ser bicromático. Então alguém se lembra de que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses. E tudo faz sentido a partir daí: o Salazar, o Américo Tomás, os páras de Tancos e o Salgado Zenha; o Álvaro Cunhal, tutor de Mário Soares, a chegar de Paris. A intentona e a Passionária. Os contrabandistas e o Paco Bandeira. O Ary dos Santos e os Sábados (tipo Papo-Seco) agitados.
De repente, no meio desta alucinação, provavelmente de origem geracional, tudo se confunde e tudo faz sentido. Assim como se fosse uma espécie de universo descodificado à boa maneira de Douglas Adams. E tudo recomeça de acordo com a sua maldição: tudo faz sentido como num sonho. E os pinguins continuam a sonhar com ameijoas enjoadas com crude: Dali Style, ou Vian style. E toda a gente percebe o que se está aqui a dizer como se não houvesse amanhã.
Abençoados os pobres de espírito, pois será deles o reino dos céus. A zebra continua impassível no meio disto tudo. Como se nada fosse.
Este foi um momento de impossibilidade quotidiana. Façam o favor de o aproveitar e de retirar o que de mais positivo nele encontrarem. Gesundheit!

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