16 de setembro de 2005

A Razão do Sol e da Peneira

18
A partir da próxima semana a TVI vai «auto-regular» o visionamento dos seus programas indicando com um pequeno símbolo no canto superior direito do écran televisivo, a que grupo etário se dirige o programa exibido. Foram definidos os seguintes símbolos:
«T» para os programas que podem ser visionados por toda a gente.
«10 AP» para os programas que já têm um palavrãozito ou outro, sendo que as letras AP significam que as crianças deverão assistir ao programa acompanhados pelos pais.
«12 AP» para programas onde o palavrãozito passa a palavrão e em que ocasionalmente se poderá vislumbrar um corpo desnudo mas nunca exibindo as partes pudendas.
«16» para programas onde o palavrão passa a um chorrilho de palavrões e onde se pode ver nus integrais com genitálias tímidas, de relance, fugazes.
«18» para programas onde genitálias desinibidas, chorrilhos de palavrões, cavalos pentapérnicos, anões e mulheres desnudas, pululam sofregamente no écran como se não houvesse amanhã.
Esta curiosa medida merece-me alguns comentários de ordem diversa:

Sobre a liberdade individual – a TVI, que defende acerrimamente os direitos do indivíduo, sendo clara a sua posição quanto ao aborto, tem aqui uma posição no mínimo paradoxal. Se um feto tem direito à vida e deve ser considerado um ser humano com direitos, porque raio é que uma criança com 9 anos não tem o direito de ver programas para além de designação «T»? Parece-me censura infantil, e logo, altamente reprovável.

Sobre a autoridade familiar - existem categorias que recomendam o acompanhamento dos pais. E o que dizer dos avós? não terão estes o discernimento para decidir o que os seus netos podem visionar? E os tios, qual é o problema deles? E os parentes afastados, perdem critério por terem uma consanguinidade mais diluída?

Sobre a exaustividade – porque raio é que as classificações são limitadas até à idade de 18? Pessoalmente acho que certos debates políticos deveriam ser limitados a indivíduos abaixo dos 3 anos; as intervenções de Soares deveriam estar limitadas a indivíduos acima dos 80; os noticiários da Manuela Moura Guedes não deveriam poder ser visionados por indivíduos do sexo masculino acima dos 6 meses, sob o perigo de se tornarem serial killers. Acho que esta história das idades merecia uma reflexão mais cuidada. A actual divisão é um desleixo.

Sobre a honestidade intelectual – e porque não abordar o visionamento de programas de uma forma mais honesta? O que tem a idade a ver com isto tudo? Conheço seres de 4 anos com maior maturidade mental que Sócrates. Quererão proibir o primeiro-ministro de ver televisão? Será isto uma conspiração insidiosa? Tendo em conta as características de programação da TVI acho que podiam ter sido mais inovadores e honestos na classificação e definir outros tipo de categorias do género:

«Programas VAM» onde se incluiriam todas as produções do Piet Hein. Sabemos bem que este senhor se especializou em programas para voyeurs com atraso mental.

«Programas ARPEP» emissões destinadas a adolescentes rebarbados com problemas de ejaculação precoce, tipo Morangos com Açúcar.

«Programas GLAPP» destinados a essa imensa minoria de gays e lésbicas à procura de protagonismo e aceitação social, e que acha que só porque aparecem na televisão, vão mudar a mentalidade vigente.

«Programas GGSE» destinados a todos aqueles gajos que gostam de ser enganados (para não dizer outra coisa que os integra automaticamente na categoria anterior), versando debates políticos, coberturas eleitorais, e jogos do Benfica.

E assim por diante até cobrir todo o espectro nacional de labregos, funcionários públicos, grevistas, coçadores de micose, desempregados compulsivos, notários, professores e outras classes profissionais de índole duvidosa.
Aqui temos mais um caso de cabotinice labrega a querer ser muito original e muito didáctica e muito socialmente responsável, enquanto se tapa o sol com a peneira...sejamos honestos meninos.

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