19 de agosto de 2005

A Razão do Croissant

croissant
A razão do insucesso de qualquer negócio em Portugal está relacionado com aquilo que costumo designar pelo «síndrome do croissant», uma derivada da famosa expressão «onde mija um português, mijam logo dois ou três».
O «síndrome do croissant» tem o seu início e o seu fim em meados dos anos 80, no século passado, altura em que muitos dos leitores deste blog se preparavam diligentemente para nascer.
Antes dos anos 80 não existiam croissants, imaginem vocês. As pastelarias exibiam orgulhosas duchéses, coriáceas bolas de berlim, empertigados ecláires, esbeltos pastéis de nata, abnegados jesuítas, e muitos outros docinhos que apaziguavam a gulodice bovina de muita gente. A palavra snack ainda não fazia parte da vida dos mamíferos daquele tempo.
Então, surgido do nada, ou provavelmente surgido do empreendorismo de um emigrante da bidon ville (que é praticamente a mesma coisa que nada) surge a primeira croissanterie - assim mesmo, em estrangeiro para parecer mais fino. Ávidos por tudo aquilo que vinha do estrangeiro, na boa tradição do provincianismo nacional, os portugueses acorreram em massa. E o sucesso da primeira croissanteria foi tão grande que, num curto espaço de tempo, o país se transformou numa imensa croissanterie. Era impossível descobrir uma pastelaria. Porta sim porta sim, as croissanterias espalharam-se como um ébola desvairado, por todo o país, ameaçando a sobrevivência do queque e do mil folhas. Cidades houve em que surgiu a «rua das croissanterias». Os portugueses atafulhavam-se de croissants como se não houvesse amanhã.
E de repente, cerca de 5 anos depois da croissanteria original, acabaram tão rapidamente como tinham começado. Tipo dinossauros. A razão: não havia mercado para tanta oferta - estava descoberto o «síndrome do croissant».
Curiosamente, os pequenos empresários portugueses não aprenderam nada e, hoje em dia, o país apresenta um número absurdo de falências que está directamente relacionado com este fenómeno.
Em Portugal, a maneira mais rápida de atingir a falência é ter uma boa ideia lucrativa, que só vai ser lucrativa nos primeiros meses porque será selvaticamente copiada até à exaustão: videoclubes; lojas de posters; ginásios; casas de frangos; lojas de artesanato; restaurantes; cibercafés; etc.
Conclusão: tudo tem de dar lucro no muito curto prazo, um princípio que não é nada saudável para o futuro económico, quer do negócio, quer do país.

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