3 de agosto de 2005

A Razão da Lobotomia

lobotomia
Christine Johnson, uma bibliotecária de Nova Iorque, quer que a academia sueca retire o Nobel da Medicina atribuído a Egas Moniz em 1949. A questão foi despoletada com a publicação de um estudo que demonstrava que a técnica da lobotomia, desenvolvida por Egas Moniz em 1936, apenas ajudou 10% dos 50.000 norte-americanos que foram lobotomizados entre os anos 30 e 70. A avó de Christine Johnson faz parte do grupo de 90% que passou a babar-se descontroladamente e a gritar «Ninguém é de ninguém!» em cada 15 minutos.
Esta exigência de Christine Johnson leva-me a perguntar porque é que não lobotomizaram também os seus pais? Ter-nos-ia poupado a mais uma demonstração de estupidez e ignorância só dignas de um orgulhoso exemplar do povo americano.
Tentei explicar a Christine Johnson no seu blog, que Egas Moniz não ganhou o Nobel pela descoberta da lobotomia, mas sim pelo desenvolvimento da Angiografia Cerebral, coisa que se demonstrou irrelevante porque no
blog desta red blooded american girl não são permitidos comentários de estranhos: típico dos burgessos norte-americanos, centrados na sua própria ignorância.
Se não fosse tão tacanha, a menina teria aprendido que antes de Egas Moniz ter inventado a angiografia não era possível detectar disfunções no cérebro (os Tacs surgiram muito mais tarde), e qualquer raio x que se fizesse ao cérebro mostrava apenas uma massa indistinta. Graças à angiografia (que consiste em introduzir, através da carótida, um líquido luminoso que acaba por «iluminar» o cérebro permitindo detectar as suas texturas) foi possível encetar uma série de tratamentos, entre eles a lobotomia.
Mas já que a bibliotecária Christine Johnson está tão interessada em honrar a memória da babosa da sua avó, retirando o Nobel a Egas Moniz, talvez seja melhor passear pela secção de história contemporânea da sua biblioteca, e ler o que os seus compatriotas do Manhattan Project fizeram em Hiroshima e Nagasaki em Agosto de 1945. Talvez Christine Johnson se lembre também de honrar as memórias dos mais de 200.000 homens, mulheres e crianças mortas nos dois ataques nucleares, e exija que se retire o Nobel a Albert Einstein.

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