Por razões históricas, a palavra portughese tem um significado muito particular em Itália. Portughese é o termo que os italianos usam para designar os borlistas. A nossa fama precede-nos além fronteiras, e houve pelo menos um povo que, no passado, nos topou. Os italianos têm razão, somos o país da borla. Somos uns borlistas inveterados desde o início da nação. Como não podia deixar de ser, o primeiro borlista nacional foi o nosso fundador Afonso Henriques que ficou com o país à borla, nunca pagando a bula ao Papa, e determinando todo um espírito nacional, vigente até aos dias de hoje.
O português tem dificuldade em pagar seja o que fôr, não porque está endividado até às orelhas (que por si só seria uma boa razão para não pagar seja o que fôr) mas porque pagar não faz parte do feitio nacional. Para um tuga, pagar é um acto obsceno. Tudo o que é à borla, mesmo que o preço seja uma coisinha insignificante e acessível, tem sucesso garantido nesta nossa novela mexicana. Depois de ter sido cliente do Ikea de Madrid durante alguns anos, lembro-me de ter visitado o Ikea tuga na sua primeira semana de existência e de ter visto em acção o “síndrome dos portughese”: os lápis que o Ikea põe gratuitamente à disposição dos clientes para tomarem nota, medirem espaços, etc. estavam esgotados. Sempre que os empregados os repunham, hordas desenfreadas de tugas borlistas atiravam-se a eles às mãos cheias – se é à borla é para levar tudo o que houver!!
As manifestações deste síndrome repetem-se: veja-se por exemplo a quantidade de blogs per capita que existem neste país – teriam um blog se tivessem de pagar por ele? Eu não. Até acho que me deviam pagar para isto. Veja-se o sucesso dos recém-surgidos jornais diários à borla. Veja-se o caso das propinas do ensino universitário. Veja-se a polémica das scuts. A malta quer usufruir mas não quer pagar.
Eu acho bem que ninguém pague nada. Aliás acho mesmo que devíamos deixar de usar o Euro ou outro qualquer tipo de moeda, regressando àquele tempo em que a aquisição de um bem era feita através da troca por outro bem. Talvez assim fossemos obrigados a produzir alguma coisa para podermos adquirir outra.
14 de junho de 2005
A Razão da Borla
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