O que torna um enviado especial, especial? Não é uma questão de resposta fácil se pensarem um bocadinho. Já repararam que a existência de um enviado especial tem automaticamente implícita a existência de outro enviado que não é especial? A verdade é que alguma coisa ou pessoa só é especial porque existe um número muito maior de outras coisas ou pessoas que não o são, que são banais.
E aqui é que a conversa se começa a tornar interessante: já alguma vez viram um enviado banal? Já viram alguma cadeia de televisão transmitir em directo a reportagem de um enviado banal, algures num palco de guerra qualquer, ou num apartamento algarvio de férias de um casal britânico disfuncional? Claro que não. Aparentemente os enviados banais não têm grande jeito para falar para as câmaras nem para dar nas vistas. Ao contrário dos enviados especiais, que falam pelos cotovelos, com um auricular no ouvido e uma calma olímpica num campo de batalha sobrevoado por mísseis intercontinentais que ocasionalmente alteram, com estrondo, o recorte da linha do horizonte.
Uma coisa que também tenho reparado é que os enviados especiais têm compreensão lenta, e que esta é directamente proporcional à distância que eles se encontram do seu país de origem. É verdade. Já repararam que quando um repórter do estúdio fala com um enviado especial no outro lado do mundo este leva algum tempo a assimilar a pergunta antes de responder? Há quem se desculpe com os satélites, mas a verdade é que o enviado especial é um bronco que tem de processar a pergunta várias vezes antes de conseguir responder.
Isto está certamente relacionado com o facto que torna o enviado especial, especial. Tudo começa na entrevista de recrutamento dos enviados: aqueles que levam mais tempo a responder às perguntas do entrevistador são normalmente recrutados. São gajos, por assim dizer, especiais…
5 de junho de 2007
A Razão do Enviado Especial
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