Como bem sabemos, o Estado tomou conta deste país há tempo demais. E como tal o país ficou com tiques de Estado: trabalha-se pouco, protesta-se muito, sai-se cedo e, la piéce de resistance, vai-se a despacho. Tudo vai a despacho neste país. Ir a despacho é uma condição de se ser português, heróis do mar, e raio que parta os canhões, marchar marchar sempre em frente, tipo flautista de Hamelin em direcção a um penhasco qualquer.
A verdade é que isto é o país do despacho, até porque o despacho (ou ir a despacho – expressão deveras deliciosa) é a maneira mais segura de nada acontecer. E, de facto, nada acontece.
O acto de ir a despacho é encerrado em si mesmo: quando algo vai a despacho podemos ter a certeza que se iniciou um processo de pasteurização ao contrário – em vez de retirar os micróbios indesejáveis, ir a despacho é acrescentar mais germes, mais micróbios e mais formas de vida esquisitas que têm todas uma coisa em comum: recebem sempre o subsídio de desemprego ao fim de mês. Mesmo que sejam mal empregados para trabalhar.
E o país, ou aquilo que chamam a este lugar, vai a despacho. Mas tudo de um modo pouco despachado, como convém.
É uma pena que não se despache todo o Governo mais a função pública que se arrasta, penosamente, como uma tripa excedente agarrada às paredes rectais do Estado. Isto nem uma tribo somali despacha.
19 de junho de 2007
A Razão de Ir a Despacho
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário