2 de março de 2005

A Razão do Aviador

aviador
Há uns dias fui alvo de um “pequeno poder” num balcão de check-in. Uma alimária de um empregado da TAP embirrou comigo por qualquer razão (até pensei que fosse um professor no desemprego que me tinha reconhecido) e obrigou-me a esvaziar a minha mala de cabine até esta perfazer o peso regulamentar admitido pela TAP. A coisa deu direito a uma reclamação por escrito ao competente CEO brasileiro da TAP e culminou com um pedido formal de desculpa do senhor, um repreensão (dizem eles) ao empregadeco empertigado, e uma borla em classe executiva numa das minhas próximas viagens.
Toda esta maçada desnecessária fez-me lembrar que nesta nossa telenovela mexicana o conceito de serviço é uma coisa tão remota como conseguirmos tomar um duche com a Monica Belucci. Em Portugal confunde-se serviço com servilismo, e portanto quando alguém presta um serviço a outrém, deixa bem claro que está ali para nos prestar um favor, e que só o fará se não o chatearmos muito e se fôr com a nossa cara. De quando em quando aparece um, como este infeliz da TAP, que gosta de mostrar que tem um qualquer poder magicamente conferido pela farda, pela espessura do balcão, ou pela etiqueta que ostenta na lapela.
Se existe uma palavra que confere o verdadeiro sentido de serviço em Portugal é “aviar”. Aqui não se servem os clientes, aviam-se. E logo, os indivíduos que desempenham esta função são os aviadores. Encontram-se normalmente atrás de um balcão, exibem a fronha nº32 (que significa “olha-me este agora quer que eu o sirva... tá bem abelha. Eu já te avio.”), arqueiam as sobrancelhas na vã tentativa de mostrar alguma superioridade, e colocam a voz num tom grave, arrastando as palavras em sinal de aborrecimento.
Estes javardolas sem brevet infestam repartições públicas, call centers, balcões de atendimento ao público, e aviam que nem uns leões! A arte lusitana do aviador só é diária e persistentemente exercida por uma única razão: porque nós deixamos...

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