29 de março de 2005

A Razão do Achamento

achamento
Os portugueses gostam de se ver como o povo dos descobrimentos. Sempre que se tenta arranjar um símbolo ou um ícone para a nossa nacionalidade, vamos inevitavelmente parar aos descobrimentos, às caravelas, às rosas do mar, ou às cruzes de Cristo. Acho mesmo que o país sonha com um período expansionista que nunca mais conheceu desde a intitulada “Época dos Descobrimentos” onde, como diz o poeta, “demos novos mundos ao mundo”.
Ora isto tem sido o grande equívoco nacional desde há mais de 500 anos. A realidade é que os portugueses descobriram pouquíssima coisa, e acharam quase tudo o que pensaram ter descoberto. Senão vejamos: descobrir é um acto que denota uma intenção de encontrar qualquer coisa com o objectivo de aumentar o conhecimento, seja numa perspectiva individual, seja numa perspectiva mais global, de um povo ou do mundo inteiro. Achar contém a arbitrariedade do acaso. Não há uma predisposição inicial para se achar uma coisa. Acha-se e pronto.
Assim sendo, os portugueses descobriram o caminho marítimo para a Índia, e acharam tudo o resto como consequência desse caminho. Então o Brasil? perguntarão vocês. A realidade é que o Brasil foi achado muito antes daquela que se convencionou ser a data da sua “descoberta”. A malta achava que se saísse a direito de Portugal, como a Terra era redonda, ia ter direitinha à Índia. O raciocínio não estaria errado se não existisse o continente sul americano ali no meio. E assim, sem querer, achámos o Brasil, que mantivemos em segredo até à assinatura do Tratado de Tordesilhas para o podermos reclamar mais tarde.
Descobrindo o caminho marítimo para a Índia, fomos achando tudo aquilo que estava ali no meio. Somos então um povo de valentes achadores durante um período considerável da história humana, período esse que deveríamos doravante designar por “Época do Achamento”.
Os verdadeiros descobridores foram os espanhóis. Esses sim. Esses contribuíram de facto para que o mundo descobrisse as verdadeiras bestas sabujas e sanguinárias que eles são, ao acharem e massacrarem inteiras civilizações para alargar um império de pacotilha, por causa de um metalzinho dourado, e em nome de uma religião que já naquela altura estava obsoleta.

Foto de Webclub

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