2 de agosto de 2005

A Razão de ter Ar

ar
Ter ar é uma condição determinante para existirmos, quer numa perspectiva biológica, quer numa perspectiva social. Vou debruçar-me aqui apenas sobre o lado social do ar, e deixar o ar biológico para os entendidos (nunca liguei nenhuma a biologia e não é agora que lhe vou dar importância).
Tal como um balão de feira, o indivíduo que preza viver em sociedade rodeado de outros indivíduos precisa de ter ar. O ar dita a imagem que esse indivíduo projecta, consciente ou inconscientemente, nos outros.
Há especialistas em desenvolver ar, e há outros que são estão nas tintas para o ar – seja para o seu ar, seja para o ar dos outros. Ter ar é um processo evolutivo: começa normalmente na adolescência, onde o indivíduo se encontra normalmente bastante confuso sobre que ar deve ter, e acompanha-o de uma forma bem mais definida na vida adulta, até chegar à terceira idade, onde há coisas mais prementes para pensar do que no ar.
Ter ar é um manifesto da individualidade. O nosso ar determina a maneira como os outros olham para nós. A quantidade de ares é quase proporcional à quantidade de indivíduos. Temos os indivíduos com ar sério, os que têm um ar divertido, os que têm um ar de estúpidos, aqueles que têm ar que não estão a pescar nada, os que gostariam de ter um ar de importante, os que irritam com o seu ar autoritário, os que despertam sentimentos protectores com o seu ar perdido, os que têm um ar convencido, os que têm um ar sedutor. Olhem à vossa volta, e encontram ares de todas as formas e feitios – todos eles têm uma função elementar: dar-nos uma existência social.
O ar desenrasca-nos em muitas situações ao longo da vida: há alturas em que fazemos um ar entendido, embora não estejamos a perceber patavina; ou outras em que fazemos um ar interessado, muito embora o interesse seja nulo; ou quando fazemos um ar desentendido, quando não queremos ir por ali. O ar lá nos vai safando... e o truque é nunca termos faltas de ar. Cuidado asmáticos!

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