Em relação às doenças não há expressão que melhor se aplique que aquela que nos diz que «em caso de violação, relaxe e goze». Na totalidade dos casos as doenças são uma inevitabilidade de estarmos vivos. Digamos que fazem parte do contrato implícito que fizemos com a Natureza: um contrato que beneficia claramente o senhorio e que devia ser alvo de contestação sindical permanente.
Tendo esta realidade em conta é fácil de ver quão despropositados são os hipocondríacos. Durante muito tempo achei que os hipocondríacos eram indivíduos que tinham um medo fóbico da morte e que, por isso mesmo, desenvolviam uma série de comportamentos esquisitos e radicais em relação a todos os potenciais sintomas de doença: um espirro para um hipocondríaco nunca é apenas um espirro – é a primeira manifestação de uma gripe fulminantemente letal; uma dor de cabeça nunca é apenas uma dor de cabeça – é um sintoma claro de um tumor cerebral tamanho de uma bola de basquete; uma dor de estômago nunca é apenas uma dor de estômago – é um claro indício de algo vai obrigar-nos a uma operação de elevado risco onde, na melhor das hipóteses, ficaremos com metade do intestino.
Na realidade, e perdendo algum tempo para pensar no fenómeno, acho que os hipocondríacos não têm medo da morte. Têm medo da vida. O acto simples de viver é algo demasiado perigoso para um hipocondríaco, sempre à espreita de um vírus lixado no virar de um guardanapo. Parecem norte-americanos à espera do próximo atentado da Al Qaeda.
13 de maio de 2008
A Razão dos Hipocondríacos
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