4 de dezembro de 2006

A Razão dos Três Porquinhos


3 porquinhos

O conto infantil que melhor retrata a história da humanidade é, sem dúvida, a História dos Três Porquinhos. Esta história simbolicamente divide o mundo em 4 tipos de gente, cada um dos tipos correspondendo a uma personagem:

- Temos os indigentes, representados por Cícero (o porco preguiçoso), que gostam pouco de alancar e preferem esticar a mão ao fim do mês e receber os subsídios do Estado.

- Temos os tipos que trabalham, trabalham e trabalham, representados por Heitor (o porco trabalhador), que nunca têm o seu esforço recompensado e que no final de cada mês vêem o seu dinheirinho escoar-se em impostos para pagar a inércia dos Cíceros deste mundo.

- Temos a malta inteligente, representada por Práctico (o porco construtor civil) que lá se vai safando com algum custo.

- E finalmente temos os gajos que querem lixar a vida a todos os outros (representados pelo Lobo Mau) e que, trabalhando afincadamente para o Estado (essa abstracção incómoda) acabam inevitavelmente por lixar os Cíceros e Heitores da vida.

O conto contém requintes de malvadez: as personagens consideradas «boazinhas» são uma vara de porcos, o que não abona muito a favor de todos nós. Todos têm um nome próprio à excepção do lobo que, tal como o Estado, não é personalizável. Quem é esperto dedica-se à construção civil à séria. E o Estado é representado por um predador insistente e sem escrúpulos (um silogismo, portanto).
A história só não é perfeita porque um dos porcos acaba por se safar à conta de um trabalho bem feito e de uma criteriosa escolha de materiais de construção. É aqui que tudo entra no mundo das fábulas, porque sabemos bem que no mundo real o porco nunca teria este discernimento profissional e veria a sua obra embargada sine die para mais tarde ser implodida com pompa e circunstância ou, na melhor das hipóteses, untava as mãozinhas do lobo e de todos os seus colegas de partido para evitar ser envolvido numa escandaleira qualquer envolvendo práticas esquisitas com leitõezinhos e tâmaras frescas.
Ainda assim fica o registo de uma boa tentativa para nos retratar.

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