Um dos conceitos com menos conteúdo em Portugal é o do Potencial. Quando afirmamos que alguém tem o potencial para se tornar outra coisa qualquer num futuro mais ou menos próximo, estamos tacitamente a dizer que, no presente, nesse preciso momento que vaticinamos o potencial do indivíduo, ele não tem aquilo que é necessário. Até poderá vir a ter, mas de momento não o tem. Essa é que essa. É a filosofia de «se a minha avó tivesse rodas seria um camião de oito rodados» em todo o seu esplendor.
O Potencial é um dos nossos complexos nacionais: fartam-se de nos dizer que o país tem imenso potencial (eu tenho sérias dúvidas) mas apesar disso não sai do seu costumeiro e ancestral «chove não molha». Este potencial nacional é perfeitamente questionável, se pensarmos bem. Temos o potencial de quê e para quê?? Não o temos certamente nos recursos naturais, onde somos líderes a descascar sobreiros e a extraír urânio empobrecido; não o temos nas práticas de gestão privada ou estatal que, como vamos sabendo, continuam a fazer-nos cair nos rankings da produtividade e da competitividade; poderíamos pensar que o potencial está no povo português mas... olhem lá para o povo português e digam-me sinceramente se descortinam algum potencial escondido.
Apesar disto, Portugal continua a ser encarado como um país com potencial para os imigrantes que já representam 7% do nosso PIB; para os investidores espanhóis que cada vez ganham mais dinheiro aqui; e para os «caçadores de cérebros», que encontram em Portugal um manancial de gente inteligente, barata, e cheia de potencial que já não tem paciência para queimar nem mais um neurónio para transformar esta telenovela mexicana numa série de culto.
8 de junho de 2006
A Razão do Potencial
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