27 de junho de 2006

A Razão de Lagos

lagos
Poucas cidades portuguesas têm um passado tão rico como Lagos, uma cidade cuja vocação para o turismo de pé descalço remonta a 2.000 anos A.C., altura em que um labrego de um celta chamado Brigo decidiu acampar perto de um lago acabando por ficar por lá a viver em pecado com os seus homens, naquilo que viria a ser um dos primeiros «spots gay» da península (tradição que se mantém até aos dias de hoje). O deboche gay foi tão grande que os Deuses se chatearam a arrasaram a cidade (que na altura se chamava Briga) por volta de 350 A.C., época em que um outro turista cartaginês, de nome Bohodes, decide voltar a edificá-la.
Com os cartagineses a tomar conta da loja a cidade torna-se um importante pólo turístico e comercial para os fenícios, gregos e, claro, os próprios dos cartagineses. Briga torna-se conhecida na zona mediterrânica como um importante porto de entrada de drogas duras na península (tradição que também se mantém até aos dias de hoje).
Atraído pela reputação psicadélica que a cidade granjeara, o Império Romano toma-a no ano de 76 A.C. pela mão do general Metelo (ainda hoje se houve localmente a expressão «o que é preciso é Metelo» na boca da população lacobrigense). Metelo decide rebaptizá-la de Lacóbriga, onde introduz novas técnicas de orgia utilizando sardinha crua, ou por vezes, estivada. Durante alguns anos Lacóbriga passou várias vezes de mãos, entre romanos e visigodos.
Em 712 os árabes decidem acabar com aquela devassidão que não dignificava nada Alá e que, ainda por cima, estava a dar cabo da população de sardinhas na costa algarvia. Voltam a rebaptizar a cidade, dando-lhe o nome de Zawaia (que significa, ao contrário do que muita gente pensa, «o poço»). Como vêem Lagos já era um poço sem fundo no tempo dos árabes...
Os árabes permanecem alguns séculos em Zawaia e entretêm-se a pintar as casas de branco e a fazer umas chaminés esquisitas até que um dia são postos dali pra fora por um gajo com pretensões a cruzado, de nome D. Paio Peres Correia. Em 1249 a cidade fica definitivamente nas mãos do Reino de Deus e assume o nome actual de Lagos. A indústria do turismo sofre um considerável revés e a ideia dos cristãos é pôr tudo o que é estrangeiro na alheta. E durante 200 anos não acontece nada. Com a chegada do Infante D. Henrique a coisa muda substancialmente de figura. Sediado em Sagres, o Infante deslocava-se frequentemente a Lagos para dar largas à sua preferência desviante por meninos. Alguns dos seus preferidos viriam a tornar-se importantes navegadores, com o seu patrocínio: os mais conhecidos – Lançarote de Freitas, também conhecido por «ganda maluka» e Gil Eanes, o «bacamarte dourado» - são hoje figuras destacadas da história de cidade.
Com a época dos Descobrimentos a vida artística da cidade anima-se de sobremaneira, sendo largamente conhecidos os espectáculos nocturnos com mulheres desnudas, anões e cavalos pentapérnicos. Lagos é a primeira cidade portuguesa onde desembarcam escravos africanos, que fazem as delícias das raparigas da terra – é aqui que surge a tradição do «Bora Dar», vigente até hoje. Como sabemos as raparigas de Lagos nunca «dão» para ninguém, a não ser que este seja estrangeiro ou, no mínimo, de outro sítio que não Lagos.
Em 1573 o puto maluco decide dar-lhe o estatuto de cidade e torná-la Capital do Reino do Algarve, mas é sol de pouca dura. O puto maluco sai de Lagos para ir andar à porrada com os mouros e nunca mais volta, e o título de capital é retirado à cidade.
Entretanto, Sir Francis Drake, ouvindo falar do «Bora Dar» invade a cidade algumas vezes e «dá» que nem um perdido, até um dia apanhar sífilis, para nunca mais voltar (causando imenso desgosto em muita rapariga da terra).
Em 1755 a cidade é arrasada pelo terramoto e não retoma a pujança turística de outros tempos até 1960, altura em que a invasão sueca vem dar origem ao «Bora Levar», uma tradição que consiste em «levar» do primeiro pescador ou cigano que encontrarem à frente. Escusado será dizer que a tradição permanece actualmente, com uma maior proliferação de nacionalidades, coabitando com o «Bora Dar».
A revolução de Abril não altera grandemente o perfil turístico da cidade e dá azo ao aparecimento de figuras locais dignas de uma telenovela mexicana. Durante anos a cidade é governada pelo «Mister 10%», também conhecido pelo «Homem do Pum sem Cheiro» (Plano Urbanístico Municipal); sucede-lhe Tintim, um homem com uma estranha obsessão por rotundas; e finalmente o vigente Groucho Marx, por muitos considerado um agente infiltrado da Direcção Geral de Viação, e cujo lema é «um semáforo em cada esquina».
Lagos lembra-me Portugal à micro-escala. Passado glorioso, presente insidioso, futuro duvidoso.
Os meus parabéns à cidade.

Uma homenagem ao melhor blog desta cidade com complexos de vila. Publicado originalmente no 5 Pontas em Outubro de 2005, aquando do aniversário da cidade.

1 comentário:

  1. Bem, está tudo explicado! Não admira que tenhas fugido tão cedo para Lisboa ;0))

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