30 de junho de 2006

A Razão Eclipsada

eclipse
Recentemente, assisti a uma coisa que nunca irei esquecer: um eclipse da Terra. Mas, por ser um eclipse da Terra, não havia sítio para observar. Então olhei para a Terra e, enquanto olhava, a Terra ficou muito escura. No entanto, o período de escuridão foi muito breve por estarmos próximos da Terra. Lembrem-se, meninos e meninas, nunca olhem directamente para um eclipse. Peçam sempre a alguém para vos contar como foi.

George Carlin

29 de junho de 2006

A Razão do Golfe

Golf
Para mim o Golfe é tão desporto como a Bisca Lambida ou o Levantamento do Copo. Sejamos sérios. Caminhar calmamente (quando não se usa um carrinho eléctrico) sobre um campo relvado à stickada numa bola de reduzidas dimensões, tentando enfiá-la em 18 buracos diferentes é, no mínimo, um passatempo de gosto duvidoso.
Desporto é quando um tipo se esforça a sério, quando sua, quando sofre lesões e traumatismos irrecuperáveis. Já alguma vez viram um golfista ser transportado de maca, para fora do teeing ground (eles chamam isto ao relvado) porque se lesionou? Já alguma vez viram um golfista suado? Claro que não. Isto porque o Golfe é o equivalente da Bisca Lambida para uma mão cheia de velhotes com dinheiro, e para umas valentes resmas de empresários e executivos que, por não terem a cheta dos velhotes, passam a vida a jogar com eles para ver se aquilo da conta bancária se pega por osmose, ou então para lhes sacarem mesmo o dinheiro que permitirá terem uma vida santa a arrastarem-se diariamente entre 18 buracos. Se aqueles velhotes fossem uns tesos iríamos provavelmente encontrá-los a jogar à bisca lambida num dos muito parques da cidade, ou numa tasca qualquer do Bairro Alto a levantar o copo.
A diferença mais visível entre um praticante de bisca lambida e um praticante de golfe está na sua conta bancária. Os primeiros normalmente não a têm.
A quem não conhece um campo de golfe recomendo vivamente a visita: está pejado de velhotes grisalhos armados ao desportista vivaço. É patético. Eu acho que há uma relação entre a disfuncionalidade da próstata e a capacidade de jogar golfe: aparentemente o bom funcionamento da próstata dificulta a aprendizagem do golfe, e é precisamente quando ela é removida que o praticante consegue fazer os mais perfeitos «pares» e os mais arrepiantes «birdies». É mais uma vez a próstata disfuncional que dá origem à expressão «handicap», que determina o nível do jogador de golfe – quanto mais pequeno o handicap, maior o nível de perícia e consequentemente maiores os indícios que ali já não há próstata. Aliás tenho uma teoria sobre aquelas posições de rabinho espetado antes da tacada: acho que aquilo foi toque rectal a mais.

28 de junho de 2006

A Razão Impressionista

impressionista
Já tiveram alguma vez a impressão de que a impressão que causam nos outros pode por vezes deixá-los tão mal impressionados que até lhes faz impressão? Há quem diga que a primeira impressão é a que conta e que determina tudo o resto, o que me faz alguma impressão se querem que vos diga. É impressionante a importância da impressão. E não há duas iguais. Há boas impressões que não nos deixam grandemente impressionados, assim como há más impressões que nos deixam uma forte impressão que mais valia não termos tido qualquer impressão.
Ficar bem impressionado implica que não nos façam impressão certas coisas, o que, se pensarem bem, é perfeitamente paradoxal: como impressionar sem ter impressão, mas apenas fazendo-a? Como podemos fazê-la sem ficar com ela? É assim uma coisa altruísta em que no momento que a fazemos nos descartamos dela?
E uma má impressão? Poderá uma má impressão deixar-nos bem impressionados ou inevitavelmente não nos impressionará nada, até pelo contrário, e ficaremos estupidamente mal impressionados? É curioso ver que para uma má impressão tanto faz que tenhamos uma impressão ou façamos qualquer impressão: é indiferente.
Este raciocínio todo já me está a fazer uma imensa impressão. É impressionante o que uma pessoa se lembra quando não tem impressões nenhumas. Até me faz impressão...

27 de junho de 2006

A Razão de Lagos

lagos
Poucas cidades portuguesas têm um passado tão rico como Lagos, uma cidade cuja vocação para o turismo de pé descalço remonta a 2.000 anos A.C., altura em que um labrego de um celta chamado Brigo decidiu acampar perto de um lago acabando por ficar por lá a viver em pecado com os seus homens, naquilo que viria a ser um dos primeiros «spots gay» da península (tradição que se mantém até aos dias de hoje). O deboche gay foi tão grande que os Deuses se chatearam a arrasaram a cidade (que na altura se chamava Briga) por volta de 350 A.C., época em que um outro turista cartaginês, de nome Bohodes, decide voltar a edificá-la.
Com os cartagineses a tomar conta da loja a cidade torna-se um importante pólo turístico e comercial para os fenícios, gregos e, claro, os próprios dos cartagineses. Briga torna-se conhecida na zona mediterrânica como um importante porto de entrada de drogas duras na península (tradição que também se mantém até aos dias de hoje).
Atraído pela reputação psicadélica que a cidade granjeara, o Império Romano toma-a no ano de 76 A.C. pela mão do general Metelo (ainda hoje se houve localmente a expressão «o que é preciso é Metelo» na boca da população lacobrigense). Metelo decide rebaptizá-la de Lacóbriga, onde introduz novas técnicas de orgia utilizando sardinha crua, ou por vezes, estivada. Durante alguns anos Lacóbriga passou várias vezes de mãos, entre romanos e visigodos.
Em 712 os árabes decidem acabar com aquela devassidão que não dignificava nada Alá e que, ainda por cima, estava a dar cabo da população de sardinhas na costa algarvia. Voltam a rebaptizar a cidade, dando-lhe o nome de Zawaia (que significa, ao contrário do que muita gente pensa, «o poço»). Como vêem Lagos já era um poço sem fundo no tempo dos árabes...
Os árabes permanecem alguns séculos em Zawaia e entretêm-se a pintar as casas de branco e a fazer umas chaminés esquisitas até que um dia são postos dali pra fora por um gajo com pretensões a cruzado, de nome D. Paio Peres Correia. Em 1249 a cidade fica definitivamente nas mãos do Reino de Deus e assume o nome actual de Lagos. A indústria do turismo sofre um considerável revés e a ideia dos cristãos é pôr tudo o que é estrangeiro na alheta. E durante 200 anos não acontece nada. Com a chegada do Infante D. Henrique a coisa muda substancialmente de figura. Sediado em Sagres, o Infante deslocava-se frequentemente a Lagos para dar largas à sua preferência desviante por meninos. Alguns dos seus preferidos viriam a tornar-se importantes navegadores, com o seu patrocínio: os mais conhecidos – Lançarote de Freitas, também conhecido por «ganda maluka» e Gil Eanes, o «bacamarte dourado» - são hoje figuras destacadas da história de cidade.
Com a época dos Descobrimentos a vida artística da cidade anima-se de sobremaneira, sendo largamente conhecidos os espectáculos nocturnos com mulheres desnudas, anões e cavalos pentapérnicos. Lagos é a primeira cidade portuguesa onde desembarcam escravos africanos, que fazem as delícias das raparigas da terra – é aqui que surge a tradição do «Bora Dar», vigente até hoje. Como sabemos as raparigas de Lagos nunca «dão» para ninguém, a não ser que este seja estrangeiro ou, no mínimo, de outro sítio que não Lagos.
Em 1573 o puto maluco decide dar-lhe o estatuto de cidade e torná-la Capital do Reino do Algarve, mas é sol de pouca dura. O puto maluco sai de Lagos para ir andar à porrada com os mouros e nunca mais volta, e o título de capital é retirado à cidade.
Entretanto, Sir Francis Drake, ouvindo falar do «Bora Dar» invade a cidade algumas vezes e «dá» que nem um perdido, até um dia apanhar sífilis, para nunca mais voltar (causando imenso desgosto em muita rapariga da terra).
Em 1755 a cidade é arrasada pelo terramoto e não retoma a pujança turística de outros tempos até 1960, altura em que a invasão sueca vem dar origem ao «Bora Levar», uma tradição que consiste em «levar» do primeiro pescador ou cigano que encontrarem à frente. Escusado será dizer que a tradição permanece actualmente, com uma maior proliferação de nacionalidades, coabitando com o «Bora Dar».
A revolução de Abril não altera grandemente o perfil turístico da cidade e dá azo ao aparecimento de figuras locais dignas de uma telenovela mexicana. Durante anos a cidade é governada pelo «Mister 10%», também conhecido pelo «Homem do Pum sem Cheiro» (Plano Urbanístico Municipal); sucede-lhe Tintim, um homem com uma estranha obsessão por rotundas; e finalmente o vigente Groucho Marx, por muitos considerado um agente infiltrado da Direcção Geral de Viação, e cujo lema é «um semáforo em cada esquina».
Lagos lembra-me Portugal à micro-escala. Passado glorioso, presente insidioso, futuro duvidoso.
Os meus parabéns à cidade.

Uma homenagem ao melhor blog desta cidade com complexos de vila. Publicado originalmente no 5 Pontas em Outubro de 2005, aquando do aniversário da cidade.

26 de junho de 2006

A Razão do Espremedor de Laranjas

laranjas

Quem me lê normalmente deve achar que eu não suporto espanhóis, o que não anda muito longe da verdade. Mas o meu desconforto pelos espanhóis não é nada comparável aos meus dois ódios de estimação: os ingleses e os holandeses. Sobre os ingleses vou falar mais tarde, esses pulhas rabetas que gostam de dizer que têm connosco o «mais antigo tratado do mundo». Hoje vou falar sobre os laranjinhas, por muitos considerados os melhores alunos da Europa, e por mim rotulados como os vermes chupistas mais badalhocos da história da humanidade. Diz a história que os laranjinhas nunca tiveram grande sorte com os portugueses: não só no futebol, como nos episódios históricos onde nos temos cruzado. Pessoalmente acho que os laranjinhas são bons a fazer aquilo que os tornaram num país: parasitismo. Os holandeses são, na realidade, o povo mais parasita do planeta. Umas verdadeiras rêmoras alaranjadas coladas na barriga de um tubarão qualquer. Enquanto os espanhóis e portugueses definiam o Tratado de Tordesilhas (um tratado bem diferente daquele que falei há pouco com os ingleses), os holandeses, esses bostas sem imaginação que falam a escarrar, andavam atrás de nós, a sacar meticulosamente o que nós andámos a descobrir. Um bom exemplo disso é a cidade de Recife, no Brasil, descoberta por portugueses, tomada pelos badalhocos dos holandeses, para logo a seguir serem dali corridos por um joint venture de portugueses e indígenas. Hoje em dia, entalados no meio da Europa ocidental, os holandeses continuam a praticar o parasitismo ancestral que sempre os caracterizou. De vez em quando lixam-se. Assim como hoje. Isto porque quando têm que contar com eles próprios, e não com a sua propensão para chupar aqueles que andam à sua volta, os laranjinhas lixam-se. Lixam-se à grande.
Arrotem pelintras!

25 de junho de 2006

A Razão a Descoberto

a descoberto
Se disseres a verdade podes ter a certeza que mais tarde ou mais cedo virás a ser descoberto.

Oscar Wilde

24 de junho de 2006

A Razão Umbilical

umbilical
O meu parteiro foi tão estúpido que se esqueceu de me cortar o cordão umbilical. Durante um ano aquele miúdo seguiu-me para toda a parte. Foi como ter um cão preso por uma trela.

Joan Rivers

23 de junho de 2006

A Razão do Orgasmo

orgasmo
No início dos tempos o orgasmo era uma coisa muito simples: só os homens é que o tinham, e servia para os avisar de quando é que tinham de parar.
Depois elas desataram a ter orgasmos e a coisa complicou-se de sobremaneira. Aquilo que era uma função básica da reprodução ganhou uma pluralidade de dimensões e, hoje em dia, o orgasmo tem mais funções que um telemóvel de última geração. Senão vejamos:
O orgasmo vende revistas: coloque-se a palavra «ORGASMO» a ocupar 1/3 da capa de uma revista e tem-se uma edição esgotada. O orgasmo é um barómetro de performance para eles e para elas – quantos mais, melhor. O orgasmo faz bem à pele. O orgasmo dá audiência ao Júlio Machado Vaz. O orgasmo desentope o nariz e tem efeitos anti-histamínicos. O orgasmo reduz a tensão e o stress. O orgasmo mais decibélico enfurece qualquer vizinho mais rebarbado. O orgasmo produz expressões faciais caricatas. O orgasmo aumenta a longevidade. O orgasmo tem efeitos inexplicáveis ao nível da auto-estima.
Se alguém duvida da capacidade feminina de complicar o que quer que seja, o orgasmo tira-vos todas as dúvidas. Ou seja, se têm dúvidas, tenham um.

Foto daqui

Publicado originalmente em Junho de 2005

22 de junho de 2006

A Razão do Verão

verão
Ontem foi oficialmente aberta a época de Verão. O Verão, como provavelmente saberão, é uma das quatro estações do ano. Já alguma vez perguntaram qual a hierarquia do Verão nas quatro estações? Qual é a ordem das estações? Há quem diga que o Verão é a segunda estação, dado que a Primavera é a estação de todos os inícios. A malta acredita que a vida começa na Primavera e que depois se despe à brava no Verão. Mas isso não interessa nada para o post de hoje. O que interessa mesmo é a razão do Verão se chamar Verão. Já pensaram nisso? Aposto que não. Nunca vos ocorreu pensar nisso, o que é um bom princípio, porque assim vão dar-me mais uns segundos da vossa atenção.
Não é difícil perceber porque o Verão é chamado de Verão. As razões são várias:
É nesta altura do ano que vocês verão a ruiva da paragem de autocarro com aquele micro bikini num fim de semana na Caparica, facto que vos dará novo alento no Inverno, quando a virem ali especada de sobretudo e com aquele ar de que lhe chuparam o sanguezinho todo (provavelmente no Verão passado).
É nesta altura em que vocês não verão aquelas intermináveis, inconsequentes, bacocas, provincianas e estupidificantes discussões na Assembleia da República porque os bostas estarão todos de férias a gozar o Verão.
É nesta altura que vocês verão que o melhor que têm a fazer é apanhar um belo sol e mamar umas belas cervejas em boa companhia e esquecer o patrão e os clientes, ambos chatos como a potassa.
Também verão a vossa pele a ficar mais escurinha, a vossa barriga a acusar os excessos de patuscada, as tardes a ficarem mais compridas e as noites a fundirem-se com a madrugada.
Verão nascer novas amizades e novos amores. Verão morrer malta em barda pelas estradas. Verão pôres do sol inesquecíveis, fins de dia irrepetíveis, noites perfeitamente olvidáveis, e nasceres do sol inenarráveis.
Verão tudo isto e mais um par de botas. E finalmente verão que o Verão, quando nasce não é para todos e, se tiverem sorte, verão também que são uns daqueles privilegiados que verão e saborearão o Verão, enquanto outros não o verão da mesma maneira.

20 de junho de 2006

A Razão da Gengivite

gengivite
Um estudo realizado por uma universidade portuguesa demonstrou uma correlação entre a taxa de corrupção de um país e o copianço puro e duro nas escolas desse país. Em suma, se os alunos copiam barbaramente o mais provável é virem a contribuir para, anos mais tarde, já instalados nas suas vidinhas profissionais, se virem a demonstrar uns cábulas corruptos.
Não é novidade nenhuma verificar neste estudo que os alunos nórdicos são os que menos copiam (apenas 5%) e que os portugueses, espanhóis, e brasileiros se destacam orgulhosamente na muy real arte do cabulanço.
Não acredito que haja uma solução para o cabulanço. E consequentemente, a fazer jus às conclusões do estudo, também não acredito que haja uma solução para a corrupção. No entanto acredito que há males que podem ser minimizados, sendo que este é um deles. Bastava para isso proibir, ou mesmo coibir (recorrendo à violência física moderada – uns pontapés bem aplicados nas gengivas, por exemplo), que cada aluno cábula pudesse vir, no futuro, a desenvolver as suas tendências corruptivas. Uma coisa seria certa: a nossa classe política teria umas gengivas muito mais saudáveis.

19 de junho de 2006

A Razão dos Nuestros Hermanóides

nuestros hermanoides
É curioso ver o que um objecto esférico de couro e onze gajos para cada lado fazem a um país. Não deixa de ser curioso de ver como cada povo convive com a sua nacionalidade e o seu patriotismo quando confrontado com o fenómeno do desporto a um nível mais ou menos global. Para variar, hoje nem vou falar mal dos portugueses que, provavelmente porque já levaram tanto na tromba em Mundiais de futebol, até estão bastante contidos com o facto de terem chegado (pela segunda vez em quarenta anos) aos oitavos de final desta competição. A contenção portuguesa até me deixa uma pontinha de orgulho, pela maturidade (para não lhe chamar outra coisa) que estamos a demonstrar.
Hoje vou falar dos nossos hermanóides (nuestros hermanos mongolóides). Eles merecem. Eu só não acho que vivo no país mais ridículo do planeta porque tive a sorte de nascer ao lado de Espanha. É verdade. Os nossos hermanóides (desculpa lá Marco, mas é mais forte que eu) estão no Mundial como estão na vida: cheios de tesão nos primeiros minutos, a acharem que vão partir esta merda toda, verdadeiramente convencidos de que são os melhores do mundo até levarem (e o mais ridículo de tudo é que levam sempre) com a puta da realidade pelos «cuernos arriba». E aí, como bons espanhóis, reagem sempre da mesma maneira: negam. Negam tudo. Negam que o Mundial existe. Negam que alguma vez lá estiveram. E desligam rapidamente os aparelhos de televisão esquecendo que afinal, até à próxima, não são os melhores. É assim o patriotismo vizinho. Se Portugal é o cu da Europa, a Espanha é o seu membro fálico. Com ejaculação precoce. Opá vamo a por el Mundial!

18 de junho de 2006

A Razão da Bola

bola
Ver futebol é como ver pornografia. Tem montes de acção, e normalmente não consigo desviar os olhos daquilo. Mas quando acaba pergunto-me porque diabo gastei uma tarde inteira com aquilo.


Luke Salisbury

11 de junho de 2006

A Razão do Patriotismo

patriotismo
Patriotismo é a vossa convicção de que o vosso país é superior a todos os outros só porque vocês nasceram nele.

George Bernard Shaw

10 de junho de 2006

A Razão Filosófica

filosofica

Há pessoas que olham para as coisas tal como elas são e perguntam, Porquê? Há pessoas que sonham com coisas que nunca aconteceram e perguntam, Porque não? E há pessoas que têm que ir trabalhar todos os dias e não têm tempo para essas merdas...

George Carlin

9 de junho de 2006

A Razão da Saudade

saudade
Há quem ache que se há por aí uma coisinha que deviam elevar a património da humanidade, não é Marvão (um dos candidatos) nem o Fado (outro dos candidatos e sujeito de uma das Razões anteriores), mas a Saudade. Esta é, na opinião de muitos e sem sombra de dúvida, um património nacional que devia pertencer ao mundo. Naturalmente que este é um raciocínio de pura retórica nacionalista. Quem somos nós para franchisar o significado de uma palavra? Uns palermas armados em exclusivistas que pensamos que, lá porque inventámos uma palavra que significa um sentimento, temos o direito e o topete de achar que o significado é nosso? Desenganem-se amiguinhos. Então vocês acham que só os portugueses é que percebem o que é sentir falta de alguém, de um momento, de algo que experienciámos um dia e que muito dificilmente voltaremos a experienciar? Tenham juízo…
A saudade, elevada a um nobre sentimento nacional com aspirações mundiais, é uma verdadeira fraude. É a prova de que nós achamos que somos diferentes dos outros só porque arranjamos uma maneira diferente de dizer que sentimos falta, que estamos nostálgicos. Os russos também achavam que eram os «donos» da Nostalgia só porque um sacana de um realizador chamado de Tarkovski decidiu cristalizar o sentimento num filme onde mostrava (à boa maneira secante de Manoel de Oliveira) um plano de uma janela onde, durante 10 minutos consecutivos, só chovia lá fora e mais nada se passava. Os povos têm destas merdas. Acham que é tudo deles.
Se querem elevar um sentimento lusitano a património mundial que o façam com a inveja. Esse sim, move a nação toda. A saudade é apenas uma paneleirice inventada por um grupo de gajos que nunca estão satisfeitos com aquilo que têm, e que só arranjam satisfação naquilo que perderam e nunca mais vão ter. Saudade, para mim, é uma canção da Cesária Évora, e o resto é retórica.

Publicado originalmente em Fevereiro de 2005.

8 de junho de 2006

A Razão do Potencial

potencial
Um dos conceitos com menos conteúdo em Portugal é o do Potencial. Quando afirmamos que alguém tem o potencial para se tornar outra coisa qualquer num futuro mais ou menos próximo, estamos tacitamente a dizer que, no presente, nesse preciso momento que vaticinamos o potencial do indivíduo, ele não tem aquilo que é necessário. Até poderá vir a ter, mas de momento não o tem. Essa é que essa. É a filosofia de «se a minha avó tivesse rodas seria um camião de oito rodados» em todo o seu esplendor.
O Potencial é um dos nossos complexos nacionais: fartam-se de nos dizer que o país tem imenso potencial (eu tenho sérias dúvidas) mas apesar disso não sai do seu costumeiro e ancestral «chove não molha». Este potencial nacional é perfeitamente questionável, se pensarmos bem. Temos o potencial de quê e para quê?? Não o temos certamente nos recursos naturais, onde somos líderes a descascar sobreiros e a extraír urânio empobrecido; não o temos nas práticas de gestão privada ou estatal que, como vamos sabendo, continuam a fazer-nos cair nos rankings da produtividade e da competitividade; poderíamos pensar que o potencial está no povo português mas... olhem lá para o povo português e digam-me sinceramente se descortinam algum potencial escondido.

Apesar disto, Portugal continua a ser encarado como um país com potencial para os imigrantes que já representam 7% do nosso PIB; para os investidores espanhóis que cada vez ganham mais dinheiro aqui; e para os «caçadores de cérebros», que encontram em Portugal um manancial de gente inteligente, barata, e cheia de potencial que já não tem paciência para queimar nem mais um neurónio para transformar esta telenovela mexicana numa série de culto.

7 de junho de 2006

A Razão das Obras

construtorcivil
O construtor civil e toda a turba que o precede (pedreiros, pintores, canalizadores e electricistas) são o paradigma da nossa nacionalidade. Não há classe de gente que represente tão bem os portugueses como esta turminha bacoca. Ouvi de um belga uma vez que «só se percebe a essência do povo português depois de se ler Eça e de se fazer obras em casa». Só lhe posso dar razão, apesar de os belgas também não serem flores que se cheirem...
Uma obra em Portugal é sempre a mesma coisa: é obra. No início é só facilidades e orçamentos baratos, no meio é só facilidades e orçamentos acrescidos, e no fim (se é que podemos usar esta palavra) é sempre um «do mal o menos» e um custo proibitivo.
O que determina o final de uma obra em Portugal não é, curiosamente, a conclusão do último acabamento. Não. Normalmente uma obra é dada como acabada quando se acaba o dinheiro ou a paciência de quem a paga. E portanto, tal como o próprio país, tudo fica inacabado e atabalhoadamente concluído. Uma espécie de Santana Lopismo vigente que contamina todo este sector.
O construtor civil e a sua turminha só percebem uma linguagem: desenvolveram desde cedo um sentimento masoquista que só lhes permite funcionar quando levam pontapés na boca. Tratá-los com profissionalismo é contribuir para que a obra dure 4 vezes mais tempo. Aplicando uns pontapés na boca aqui e ali a obra consegue concluir-se no dobro do tempo.
Sabendo disto, quando decidi fazer obras em casa, segui os conselhos de um amigo alemão e defini com o meu construtor civil um contrato penalizador. Ele definia um prazo para a obra e por cada dia que ele se atrasasse pagar-me-ia uma determinada quantia. Medida Santa: já vou no terceiro construtor, o dinheiro das penalizações já deu para fazer uma piscina que não estava inicialmente prevista, e pelos vistos vou passar umas férias à borla no Brasil à conta do gajo que está lá agora. Recomendo-vos. O Brasil, não as obras.

Publicado originalmente em Maio de 2005.

6 de junho de 2006

A Razão da Besta

besta
Uns tipos com muito tempo livre apareceram por aí muito excitadinhos a afirmar que hoje, dia 6 de Junho de 2006, é o Dia da Besta. Isto porque numericamente a data tem a configuração 666, normalmente associada a uma Besta qualquer.
Não fazendo ideia do significará hoje ser o Dia da Besta, gostaria de dedicar este post a todas as bestas que conheço, e em especial:

- Às bestas que governam o país diariamente e que enchem o bandulho à conta de contribuíntes que cada vez têm menos dinheiro para si porque cada vez pagam mais para alimentar um Estado que pouco faz por eles.

- Às bestas dos empresários nacionais que não fazem nada pelo país mas que gostam de exibir os seus fatinhos e comparar o tamanho das suas gravatas em eventos do tipo «Compra-me isso Portugal».

- Às bestas histéricas dos media que transformam diariamente o país num circo de celebridades pré-fabricadas e medíocres que almejam uma qualquer importância nacional que só têm nas suas cabecinhas loiras e ocas.

- Às bestas dos jornalistas que não percebem a diferença entre uma estrumeira e os artigos que diaria ou semanalmente escrevem, acreditando que chafurdar na merda lhes dá uma aura qualquer de intocáveis, e que só são intocáveis porque ninguém se lhes chega perto por causa do cheiro.

- Às bestas do serviço e do funcionalismo público, agarradas que nem lapas a direitos adquiridos e a regalias desajustadas da realidade do país.

- Às bestas da oposição, que confundem oposição com destruição e que, por isso mesmo, não conseguem por manifesta incapacidade desempenhar o papel que lhes está destinado.

- Às bestas dos tios e das tias, indigentes, tesos, improdutivos, mas com aquela pose ridícula de que são importantes para alguma coisa, e com uma pseudo-educação que os coloca, no seu miserável discernimento, acima de todos os outros.

A melhor maneira de comemorar o Dia da Besta é expôr todas estas alimárias, quanto mais não seja por um único dia, e dizer-lhes, nas trombas, que já os topamos. O ideal seria tatuar-lhes, com um ferro quente na testa, o número 666. Isso seria mesmo bestial.

5 de junho de 2006

A Razão Delinquente

delinquente
Li hoje que o Estado gasta 16,2 milhões de euros por ano para manter em funcionamento 12 centros educativos de jovens delinquentes. Dado que o número total identificado de jovens delinquentes em Portugal é de 271, isto significa que a cada menor cabe a generosa quantia de 4.981 euros por mês (13 vezes o ordenado mínimo nacional).
A todos vós que estudam e estudaram durante dezenas de anos para engrossarem a lista de desemprego com um canudo inútil na mão, um conselho: dediquem-se ao crime, e já agora iniciem também os vossos filhos, porque pelos vistos aqui na telenovela mexicana a coisa compensa. E o Estado recompensa.

4 de junho de 2006

A Razão Inicial

inicial
No início não existia nada. Então Deus disse: «Faça-se luz!» E fez-se luz. Continuou a não existir nada, mas pelo menos via-se tudo muito melhor.

Ellen DeGeneres

3 de junho de 2006

A Razão Reveladora

reveladora
A diferença entre Democracia e Ditadura é que na primeira vocês votam e acatam as ordens depois, e na segunda nem sequer perdem tempo a votar.

Charles Bukowski

2 de junho de 2006

A Razão Telefónica

telefonica
Gostava de saber se, quando levantamos o auscultador do telefone, existe um sinal de marcação individual para cada um de nós ou há um grande sinal de marcação mundial contínuo, onde vamos entrando e saindo? Estas coisas dão cabo de mim.

George Carlin

1 de junho de 2006

A Razão do Trabalho Infantil

trabalho infantil
Ficou toda a gente escandalizada quando o Expresso publicou recentemente uma entrevista onde mostrava criancinhas portuguesas a trabalhar árdua e ilegalmente numa fábrica que fornece as lojas Zara. É interessante esta polémica do trabalho infantil no Portugal civilizado. Ficamos muito chocados e aborrecidos quando seres humanos com uma idade física abaixo dos 15 anos são postos a trabalhar e a ganhar ordenados miseráveis. E o que dizer dos gajos que têm uma idade mental abaixo dos 5 anos e que diariamente trabalham na Assembleia da República a ganhar ordenados duplos e a acumular regalias pornográficas? Alguém se chateia com estes? Não. Nisto do trabalho infantil, como noutras muitas coisas, temos dois pesos e duas medidas.


Foto: José Sócrates explica aos membros do parlamento a técnica correcta para tirar macacos do nariz.