2 de novembro de 2005

A Razão de Adelina

adelina
Adelina tinha uma vida pacata, igual a milhões de vidas por esse mundo fora. Um dia comprou um saco e as coisas mudaram. As pessoas do bairro, que sempre lhe falaram muito bem, começaram a baixar os olhos, a desviar o olhar, a passar para o outro lado da rua, quando passavam por ela. Adelina não conseguia deixar de reparar nos cochichos sempre que entrava num sítio público. Os clientes da sua pastelaria deixaram de aparecer, o banco deixou de financiar os seus empréstimos, a Judiciária fez-lhe uma rusga e levou-lhe o livro de contas, as Finanças não a largavam, até o Sr. Libano da farmácia se recusava a vender-lhe os medicamentos.
Adelina não era supersticiosa e portanto recusava-se a acreditar que o saco tinha atraído aquela desgraça toda. Mas o facto é que a sua situação piorava de dia para dia. Até que um dia, cansada daquilo tudo, Adelina pegou nas economias que tinha amealhado ao longo dos anos e tomou a decisão da sua vida. Foi para o Brasil. E levou com ela o saco azul.
Hoje Adelina tem uma vidinha mais ou menos. Arrebitou as mamocas com silicone. Fez um botoxzinho. Arranjou um penteado novo com madeixas loiras e consulta frequentemente um sobrançólogo, que lhe dá importantes dicas sobre como tratar as sobrancelhas. Desde que casou com um reformado endinheirado passa a vida no Posto 6 de Copacabana, a trabalhar o bronze. O saco azul continua consigo. E ela continua a acreditar que ele não teve culpa nenhuma.

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