Lembram-se do Fernando Mamede? Aquele meio-fundista que corria que se fartava? Durante 6 anos seguidos o Mamede parecia imparável e arrebanhava tudo por onde passava: foi detentor de 27 recordes nacionais, de 1 recorde mundial, e de 3 recordes europeus. Até que um dia, algures nos finais dos anos 80, o Mamede ficou com medo de ganhar, e nunca mais ganhou nada. Desde então, sempre que entrava em competições importantes, numa posição de favorito, o Mamede stressava com a possibilidade de não corresponder às expectativas. E stressava tanto que as pernas deixavam de lhe obedecer.
Portugal faz-me lembrar o Mamede: durante séculos corremos que nem uns desvairados a descobrir e a povoar, mal e porcamente, os quatro cantos do mundo. Fizemo-lo com a inconsciência alarve da necessidade. E um belo dia, quando quisemos encontrar o nosso lugar no mundo, stressámos. Stressámos com o facto de sermos apenas um rectangulozinho no fim da Europa, como se alguma vez o tivéssemos deixado de ser, ou como se aqui fosse o fim da Europa. Stressámos com as expectativas que criámos para nós próprios. E desde altura parecemos uns Mamedes, de pernas bambas, governados por uns Mamões.
Continuo à espera da geração de Obikwelus que, paradoxalmente, tarda em chegar.
Nota: Uma Sandes de Atum fez ontem anos. Vão lá dar os parabéns ao Papo-Seco que há dois anos nos anima os Sábados, às Sextas.
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