28 de julho de 2005

A Razão Bipolar

bipolar
Os governos que se sucedem em catadupa, nesta novela mexicana a que simpaticamente chamamos de país, gostam de nos presentear com meias medidas para resolver o caos e a desordem económica e social, conseguidas com anos e anos de desleixo e incompetência. Um exemplo recente é o aumento do IVA: sabemos que não vai resolver coisa nenhuma porque o seu efeito mais imediato é reduzir o consumo e, consequentemente, a receita.
Estas meias medidas contrastam com a nossa mais evidente característica nacional: o povo português é bipolar. Num minuto somos os maiores do mundo, e no minuto seguinte somos umas verdadeiras merdas intergalácticas que mais valia termos servido de combustível para o big bang.
Não conhecemos meios termos. Somos uns verdadeiros interruptores, umas vezes no «on», outras vezes (a maior parte delas) no «off». A nossa auto-estima nacional assemelha-se a um electrocardiograma a captar os efeitos de um defibrilhador.
A coisa é bastante ridícula quando olhamos de fora. Recuemos um ano atrás para observar o comportamento dos portugueses face à sua selecção nacional: quando começou o Euro 2004 ninguém acreditava, nem deixava de acreditar, que Portugal fosse muito longe. Quando fizemos o jogo de abertura com os gregos e perdemos, ficámos com certeza absoluta que tínhamos uma equipa de merda. Três jogos e alguns milhares de bandeiras mais tarde já estávamos no extremo de achar que íamos ser campeões europeus. E depois perdemos outra vez com os gregos. Auto-estima rasteira de novo.
Outro exemplo: o governo de Santana fez-nos acreditar que o país estava virado do avesso, o que explicava as dores nas costas de muita gente. Quando Sócrates ganhou as eleições (e o país continuou virado do avesso) todos os problemas acabaram porque tinha chegado um novo senhor, muito competente, que ia tratar de resolver tudo. O simples facto de Sócrates ter sido eleito já foi suficiente para deixarmos de nos preocupar. E depois foi o que se viu. Auto-estima rasteira outra vez...
Esta incapacidade de atingirmos o equilíbrio faz parte da nossa nacionalidade. Se fôssemos sempre os maiores seríamos espanhóis (com toda a megalomania imbecilóide inerente); se fôssemos sempre uma merda seríamos luxemburgueses ou belgas, os povos mais cinzentos e desinteressantes da Europa (o primeiro deles está curiosamente atestado da maior comunidade emigrante portuguesa).
Feliz ou infelizmente, a bipolaridade é o que nos faz portugueses. Ninguém nos pode acusar de sermos um povinho monótono.

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