19 de dezembro de 2004

A Razão da Campanha Eleitoral

socratus

Na passada sexta-feira tive o azar de ter sido convidado para um jantar no Pavilhão de Congressos de Lisboa. Azar porque paredes meias acontecia outro jantar com umas centenas valentes de mamíferos do partido socrático. Escusado será dizer que a minha refeição foi um verdadeiro martírio alucinado: a gritaria do Sócrates, arremessando palavras de ordem na sala ao lado, impediu de concentrar-me no consumé, de saborear o prato principal, e quando cheguei à sobremesa os comensais socráticos estavam em pleno transe apoteótico, ao som da banda sonora do Gladiador que, pelos vistos, foi a música escolhida para a sua campanha eleitoral. Lembrei-me então de como seria interessante se esta próxima campanha eleitoral fosse inspirada nos espetáculos de porradaria desenfreada do velho coliseu romano.

À boa maneira de Otelo (e não me refiro ao de Shakespeare) metiam-se os dez milhões de portugueses na praça de touros do Campo Pequeno com os polegares em riste. Largavam-se os candidatos na arena: Sócrates de sandálias com uma espada curta de lâmina mal amolada; Portas com um imenso pilum e uma sunga núbia; Santana completamente nu com um tridente e uma rede, ostentando um daqueles elmos em forma de cabeça de cherne; Jerónimo de Sousa com uma moca de Rio Maior envergando umas vestes célticas; e finalmente o Louçã, vestido de bardo, com uma lira nas mãos. Depois era ver como é que estes senhores se safavam!

Os candidatos degladiar-se-iam na arena à boa maneira antiga até que restasse apenas um. A assistência exerceria a sua razão e decidiria, pelo método do polegar, se queria ser governada pelo candidato sobrevivente. E depois abandonariam todos o recinto com a reconfortante sensação do dever cumprido. Decididamente, a coisa seria razoavelmente mais divertida, e estupidamente mais rápida.

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